Nem todo mundo sabe, mas existem áreas do Guaíba em Porto Alegre onde é possível se aventurar e dar um mergulho. Quem atesta isso é o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), em laudos divulgados semanalmente entre dezembro e março, época de calor e onde a procura pelos espaços aumenta.Mas para atestar essa balneabilidade, o poder público segue uma série de regras desde a coleta até a análise da água. O conjunto destas etapas é chamado de cadeia de custódia, como explica a diretora de tratamento de Água e Esgoto do Dmae, Joicineli Becker.
A reportagem de GZH acompanhou a primeira coleta feita pelo Dmae em 2024. Na manhã da última quarta-feira (3), uma dupla de técnicos em saneamento do órgão circulou por seis pontos dos bairros Belém Novo e Lami, no extremo sul de Porto Alegre. Estes são os locais do Guaíba considerados balneáveis na Capital.
Fica por conta do técnico em saneamento Ricardo Balloni trajar um macacão impermeável e adentrar nas águas. Com um equipamento que ajuda a medir a visibilidade, ele avança até que alcance o ponto considerado ideal para o recolhimento. Em terra firme, a colega de Ricardo, Aline de Oliveira, preenche informações numa planilha. São dados como horário da coleta e a temperatura do ar naquele momento, por exemplo.
— São informações que a gente precisa levar em conta na hora de analisar a amostra. As chuvas, o vento e a temperatura têm influência sobre o movimento na superfície e também no fundo do Guaíba. Tudo isso é importante — conta Aline.
Inclusive, o Dmae evita coletas após em dias após chuvas intensas ou em momentos em que esteja chovendo torrencialmente. A ideia é que a amostra seja coletada sempre quando o manancial está em condições normais. O trabalho costuma ser rápido, a equipe leva menos de 10 minutos para executar a coleta de água em cada ponto. Depois, as amostrar são levadas para o laboratório do Dmae, onde a análise é feita. Mas ela por si só não é um resposta completa, é necessário haver uma comparação. Por isso, como explica a diretora Joicineli, as coletas iniciam ainda em novembro.
— Conforme a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente, o Conama, que nos dá os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, é preciso um número mínimo de amostrar para ter uma conclusão. Por isso, recolhemos amostras por cinco semanas, começando em novembro e divulgamos o primeiro resultado em dezembro. Depois, vamos atualizando semanalmente com a nova amostra coletada, combinando informações com as quatro análises anteriores. É sempre uma interpretação conjunta das últimas cinco coletas — explica Joicineli.
Critérios
Mas o que é levado em conta para considerar se o ponto é próprio ou não para banho? De acordo com diretora de tratamento de Água e Esgoto do Dmae, os dois principais fatores são a análise do pH da água (índice de acidez) e da presença da bactéria Escherichia coli (conhecida como E. coli). Conforme a resolução do Conama, ainda há outros pontos analisados, como a presença de coliformes fecais, da bactéria eterococos e da floração de algas. Mas o principal é que 80% das análises, de um conjunto das cinco últimas amostras, deve apresentar algumas características.
— O pH precisa precisa ter um índice maior que 6 e menor que 9. E a presença de E. coli deve estar em até 800 a cada 100 mililitros para a balneabilidade ser considerada satisfatória — conta Joicineli.
Depois da coleta, levam cerca de 48 horas para que os primeiros resultados sejam apresentados. Por isso, o Dmae faz as coletas nas quartas-feiras e divulga os relatório às sextas. Depois da coleta que o GZH acompanhou, o Dmae divulgou na sexta-feira (5) o documento. Pelas análises, conclui-se que os seis pontos vistoriados estão próprios para banho, tanto em Belém Novo quanto no Lami. É a primeira vez que isso acontece neste verão. Mergulho liberado para os próximos dias.