Centenas de pessoas ainda aguardam para deixar a Região das Ilhas, em Porto Alegre, em meio à maior enchente dos últimos anos na cidade. O grande volume de água e a forte correnteza dificultam a logística de resgate.
Na manhã desta terça-feira (21), todas as principais ilhas que compõem o bairro Arquipélago estavam com acesso bloqueado.
Na área que abrange a Ilha da Pintada e o bairro Picada, no município de Eldorado do Sul, o Exército enfrentou dificuldades para realizar a operação de remoção das famílias. Um trecho da Rua Martinho Poeta, que liga as duas localidades, cedeu.
Um comboio das Forças Armadas que carregava dezenas de moradores teve que aguardar a chegada de outro veículo para fazer o transbordo dos passageiros. No entanto, este outro caminhão estragou no caminho.
A travessia a pé não é recomendada, nem mesmo mesmo com equipamentos adequados. Apenas veículos com rodas maiores, como jipes e tratores, conseguem fazer o trajeto até a terra firme. A reportagem de GZH acompanhou um resgate com jipeiros, que rebocaram uma embarcação com quatro pessoas e dois cachorros. Em alguns trechos, o veículo enfrentou resistência para ultrapassar ondas formadas pela força da correnteza. Foram necessários 20 minutos para percorrer cerca de um quilômetro, tempo 10 vezes maior do que o habitual em um dia normal.
A prefeitura de Porto Alegre não divulgou quantas pessoas ainda precisam ser removidas. Até a manhã desta terça-feira, 920 já haviam sido resgatadas. O ginásio do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) abriga 139 pessoas, conforme balanço mais recente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).
Moradores acampados pedem banheiro
Em ilhas mais próximas da BR-290, diversos moradores preferiram acampar nas margens das rodovias a irem para o abrigo. Na Ilha do Pavão, famílias passaram a noite em uma barraca montada com lona e estaca de madeira, dormindo no chão, sem colchões ou roupas de cama.
Ariana Dias, uma das moradoras que perdeu quase tudo em sua casa, conta que, para além da dificuldade de passar a noite nessas condições, a falta de banheiro é outro complicador. Segundo ela e vizinhos, a prefeitura havia prometido doar banheiros químicos para quem está acampado, mas, até o início da manhã, isso não havia acontecido.
— Às vezes, a gente acha um cantinho e faz (necessidades básicas), mas há coisas que não tem como fazer. Temos que ficar segurando até virem os banheiros — afirma Ariana.
Em resposta, a Defesa Civil reforça que ofereceu a oportunidade de acolhimento a essas pessoas. No entanto, confirmou a instalação de banheiros na Ilha das Flores e que irá instalar também na ilha dos marinheiros.
A escolha de parte da população em acampar se explica pelo desejo de ficar próximo a suas casas, mesmo que esteja sem condições de serem acessadas.
— A maioria do pessoal está aqui pelo apego à casa. Mesmo perdendo tudo, eles querem ficar olhando a casa para ver se não vai água abaixo. E é o que eu estou fazendo, eu estou cuidando. Não tenho o que fazer, é difícil explicar — relata Ivamil de Souza, morador do bairro Picada.
Mais um abrigo
Ainda nesta terça-feira, a prefeitura da Capital informou a ampliação do atendimento para as pessoas que precisaram deixar suas residências. Um terceiro ponto de acolhimento foi montado na Casa do Gaúcho, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia).
O espaço oferece 150 vagas iniciais, número que pode dobrar, caso necessário. A abertura do local ocorre por meio de uma parceria com GAM3. Também recebem famílias o ginásio do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) e o 9º BPM da Brigada Militar.