Mesmo com o sol brilhando, a água da chuva desta semana seguia acumulada nesta quinta-feira (14), no bairro Lami, na zona sul de Porto Alegre. A situação prejudicou o trabalho de limpeza e recuperação dos estragos causados pela enxurrada. Algumas ruas desta região seguiam, inclusive, alagadas nesta tarde. O aumento no nível do Guaíba agravou a situação.
São problemas distintos que acometeram o bairro nas últimas horas. O aumento do nível do Guaíba fez com que a água atingisse residências na orla durante a madrugada. Foi o que aconteceu na casa de madeira da recicladora Ângela Raquel Lordes de Oliveira, de 41 anos. A família foi surpreendida com a água por volta de 3h.
— Foi de madrugada. Estava dormindo e quando acordei a água já tinha subido até aqui onde a gente mora. Molhou tudo, roupa, colchão. A gente perdeu muita coisa — relata Ângela.
Junto do marido, do pai, de um filho pequeno e uma inquilina, ela teve que passar a madrugada em claro na rua. Nesta tarde, o rastro de sujeira ainda era visível no pátio da família e ao longo da orla na Avenida Beira-Rio.
Sem escoamento
Em áreas mais afastadas da orla, os alagamentos foram causados pelo acúmulo de água da chuva. Na Rua Manoel Vieira da Rosa, a água seguia na altura do joelho na tarde desta quinta-feira. Casas foram invadidas pela água e moradores acudidos por vizinhos. Não há um levantamento oficial de pessoas que saíram de casa, pois todos foram para residências de vizinhos, familiares ou amigos e não procuraram os abrigos da prefeitura.
O mecânico Fabiano Vargas, de 44 anos, teve a casa invadida pela água, mas não chegou a perder móveis. Com uma caminhonete, auxiliou vizinhos a sair de casa.
— Um vizinho tem um filho acamado que precisava ser retirado. Não entrava mais carro na rua. Então fui com a caminhonete, coloquei o filho no colo e tiramos ele lá de dentro. Levaram ele para casa de familiares — relata.
Moradores do bairro reclamam de problemas no escoamento da água e assoreamento de um arroio que corta a localidade. Foram relatados alagamentos em ao menos cinco loteamentos do bairro Lami. A água invadiu casas nos loteamentos Jardim Floresta, Sapolândia, Extrema, Nossa Senhora das Graças e Parada 21.
— Tem um problema de manutenção. Os valos estão entupidos. Se estivessem limpos, a água estaria indo embora. Tem previsão de mais chuva e os moradores vão continuar dentro da água — reclama Maria Clara Petter, 67 anos.
A enchente também atingiu a aldeia guarani Tekoá Pindó Poty. Um riacho alagou as casas e obrigou os 48 indígenas a saírem da aldeia. Eles foram abrigados no salão da Igreja São João Paulo II. Na tarde de quarta-feira, a água já havia baixado e os indígenas começaram a retornar para a aldeia.