O título de bairro boêmio de Porto Alegre já não é mais exclusividade da Cidade Baixa. Com a retomada das atividades econômicas no pós-pandemia, outros pontos da Capital passaram a atrair os olhares de empreendedores e daqueles que buscam por diversão. Esse é o caso do bairro Rio Branco que, aos poucos, vem se tornando um novo polo de entretenimento noturno dos porto-alegrenses.
O movimento se concentra principalmente nas ruas Miguel Tostes, São Manoel, Vasco da Gama, Cabral e Mariante, onde diversos bares e restaurantes foram abertos nos últimos dois anos. Bairro tipicamente residencial, a transição para o novo perfil, entretanto, já gera incômodo a alguns moradores que reclamam da música alta, das aglomerações nas calçadas, além do lixo e urina deixados no chão e pelos cantos.
No trecho, há opções para os mais variados gostos, como hamburguerias, temakerias, pubs e pastelarias. Em alguns locais, há mesas nas calçadas, mas em outros, os frequentadores preferem ficar em pé, e são nestes locais em que as reclamações se concentram.
Moradora do Rio Branco há 25 anos, que preferiu não se identificar, relatou à reportagem que os problemas com o som alto começaram em janeiro, com a inauguração do bar Pito, na esquina da Rua Mariante com a Liberdade.
— O problema é a maneira como está sendo utilizado o bar, com uma banda na calçada. Eles dizem que fica até a meia-noite, mas às vezes passa da meia-noite e é impossível dormir. Eu acordo às 5h para trabalhar e às vezes é 3h e eu ainda não dormi — diz a moradora.
A professora aposentada Maristela Masera, 61 anos, é moradora do Rio Branco há 11 anos e reclama que há cerca de um ano está tendo problemas em razão do bar El Aguante. Segundo ela, além do barulho, outro problema é o forte odor da urina deixada nas calçadas pelos frequentadores da região.
— Nós não somos contra os barzinhos, mas somos contra este barulho, a sujeira e o cheiro que ocasionam. Queremos que os barzinhos tenham acústica, que os frequentadores fiquem dentro do bar, e que não sejamos obrigados a ouvir esse som alto. Nós queremos que os barzinhos tenham banheiros adequados para que os clientes não precisem fazer xixi nas calçadas — pontua a professora.
Nós não somos contra os barzinhos, mas somos contra este barulho, a sujeira e o cheiro que ocasionam.
Luisa Silveira Nora, 29, sócia do bar Pito, afirma que o bar cumpre todas as normas previstas no alvará de funcionamento do estabelecimento, que permite música ao vivo até meia-noite.
— A ideia não é incomodar ninguém. A gente só quer proporcionar um lazer. Temos uma agenda cultural que é muito importante para o bar e isso não vai acabar. Acho que esse é um debate que super a gente consegue fazer junto. Não privar ninguém do seu sono, mas deixar uma herança cultural no bairro Rio Branco — salienta Luisa.
A ideia não é incomodar ninguém. A gente só quer proporcionar um lazer.
Um levantamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Smdet) aponta que 2023 já supera os últimos dois anos no número de alvarás emitidos para instalação de estabelecimentos no Rio Branco. Até o fim de julho, foram 55 alvarás. No ano passado inteiro foram 54, e em 2021, apenas 23. Além disso, dos 207 alvarás em funcionamento no bairro, 124 são de bares e restaurantes — o que representa 59% do total.
GZH procurou os responsáveis pelo bar El Aguante por aplicativo de mensagem. Na primeira tentativa, às 16h56min de quinta-feira (17), foi informado pelo estabelecimento que não conseguiria atender a reportagem durante o expediente. Na segunda vez, às 18h57min desta sexta-feira (18), o recado foi visualizado mas não foi respondido.
Denúncias e autuações
Procurada por GZH, a prefeitura se manifestou por meio de nota. No texto, a Secretaria Municipal de Segurança (SMSEG) afirma que realiza fiscalizações rotineiras e que, desde janeiro, a Diretoria-Geral de Fiscalização (DGF) recebeu 129 denúncias referentes a possíveis casos de irregularidades no funcionamento de estabelecimentos comerciais e poluição sonora no bairro Rio Branco.
Sobre as reclamações referentes ao acúmulo de lixo e urina nas calçadas, a prefeitura pontua que os casos são passíveis de multa e que as denúncias podem ser feitas pelo número 156, ou no aplicativo 156+POA. Veja a íntegra da nota abaixo.
"A Secretaria Municipal de Segurança (SMSEG) é a responsável pela coordenação da Operação Esforço Concentrado, que tem como principal objetivo garantir que a vida noturna da cidade não gere impactos negativos para os moradores das áreas onde estão concentrados bares e boates.
O bairro Rio Branco faz parte da rotina de patrulhamentos imposta pela força-tarefa, que também percorre Cidade Baixa, 4º Distrito, Moinhos de Vento e a região da orla do Guaíba. Somente em 2023 foram 13 prisões e 15 sanções impostas a estabelecimentos de toda a cidade.
Desde o início do ano, a Diretoria-Geral de Fiscalização (DGF) recebeu 129 denúncias referentes a possíveis casos de irregularidades no funcionamento de estabelecimentos do gênero e poluição sonora no bairro Rio Branco. Todas foram averiguadas pelos agentes - que efetuaram 18 autuações na área até o dia 16 de agosto.
Quanto aos relatos de acúmulo de lixo e urina nas proximidades dos bares, as infrações são passíveis de multa. Segundo o Código Municipal de Limpeza Urbana, a sanção varia de 100 a 250 Unidades Financeiras Municipais (UFMs) no primeiro caso, e de 50 a 500 UFMs no segundo.
Casos do tipo podem ser denunciados por meio do número 156, ou no aplicativo 156+POA."