Para Alex André Guimarães Fortes, 47 anos e há seis meses em situação de rua, ir para o Viaduto Imperatriz Leopoldina, na avenida João Pessoa, aos sábados já virou rotina. É lá que ele e o seu cachorro “Meu”, um vira-lata de cinco anos, recebem alimento e atendimento básico de saúde.
— Trago (o cachorro) todo o mês para as gurias (médicas veterinárias). E aí acabo me consultando também, me alimentando e alimentando o Meu. Eu salvei a vida dele e ele salva a minha — conta Alex, que resgatou o animal de maus-tratos.
Há sete anos no local, o grupo Prato Feito das Ruas entrega entre 1,5 mil e 1,8 mil marmitas todo sábado no viaduto. De um ano para cá, virou ponto também da ONG Médicos de Rua, que traz uma equipe multidisciplinar com 50 voluntários, entre eles psicólogos, médicos, dentistas e médicos veterinários, para atender a população em situação de rua.
Diretora da Médicos do Mundo em Porto Alegre, a bióloga Camila Wood explica que a ideia de juntar os grupos surgiu da dificuldade de divulgação, já que a maioria das pessoas em situação de rua não tem celular.
— Para atender em um local público, tu tens que ter um chamariz para a população. E a comida é o chamariz — resume.
Na manhã deste sábado (15), no refeitório a céu aberto, o cardápio da vez foi arroz, feijão, massa com salsicha e pão com creme de maionese, com suco de abacaxi para acompanhar. Isso é resultado de um trabalho de 150 voluntários, que se organizam no preparo dos alimentos. A coordenadora do grupo Prato Feito das Ruas, Rose Carvalho, explica que tudo é elaborado a partir de doações para pessoas em situação de rua.
— O foco era esse (comida). Mas com a pandemia, teve muita gente que perdeu o emprego e aí para ir para a rua é uma consequência. Nas filas para a marmita, o que eles mais pedem é roupa e emprego — pondera.
Já na ala da saúde, cerca de 60 pessoas e 15 animais foram atendidos, com curativos, medição de pressão, práticas de quiropraxia, conversas com psicólogas e vacinação, no caso dos animais.
Mas, segundo Camila, o trabalho às vezes é mais simples:
— Muito do que a gente faz é conversar com a pessoa. É fazer com que ela se sinta valorizada e digna de receber um serviço de saúde.
O aposentado Paulo Renato Costa Barbosa, 70 anos, de Alvorada, é outro assíduo do local:
— O meu principal problema é a pressão. Então sempre venho ver os médicos para ver se eu estou bem, porque infelizmente tenho pressão alta — conta.
Como ajudar
- Doação de alimentos pode ser feita aos sábados pela manhã no Viaduto Imperatriz Leopoldina para o grupo Prato Feito das Ruas e também em pontos de coletas. Um deles é a Estética Blond Hair (rua Barão do Amazonas, 809);
- Já doação de medicamentos, materiais de higiene, roupas e rações pode ser feita para a ONG Médicos do Mundo. No perfil @medicosdomundo.poa há os pontos de coleta;
- Profissionais da saúde interessados em se voluntariar também podem se candidatar às ações da Médicos do Mundo. As principais necessidades atualmente são de pessoas formadas em enfermagem, fisioterapia, medicina e biomedicina.