Nascida em Porto Alegre e filha de mãe brasileira e pai nigeriano, Remi Owadokun, 36 anos, teve uma ideia original e inovadora. A jovem criou a plataforma Morena Pixels — um banco de imagens de pessoas negras —, para dar visibilidade a esse público tão preterido em determinadas situações.
— Como palestrante durante as minhas apresentações, eu tinha a maior dificuldade de achar fotos de pessoas negras retratando a minha realidade — explica Remi, que é formada em moda na Itália e vive transitando pelos Estados Unidos e pela Europa.
Por não entender por quais motivos não encontrava imagens que representassem a realidade de muitas pessoas, Remi decidiu criar uma plataforma onde os negros fossem os modelos.
— Então, decidi começar a plataforma em vez de ficar reclamando que não encontrava fotos — conta ela, que visita três vezes por ano a Capital e permanecerá na cidade até o final de agosto.
A plataforma Morena Pixels será lançada de forma virtual oficialmente em 7 de agosto. A diferença em relação às demais está na remuneração oferecida aos fotógrafos, que receberão cada vez que a foto for licenciada, e também para os modelos e os proprietários dos espaços onde as locações forem realizadas. Todos ganharão por seu trabalho.
— Assim, todo mundo sai ganhando e se sente valorizado — diz.
Na prática, a plataforma estará à disposição de qualquer pessoa, empresa, universidade ou veículo de imprensa que precise de uma foto de alguém negro para ilustrar trabalhos ou projetos. As imagens não serão gratuitas. Uma foto pequena custará US$ 49, enquanto a média sairá por US$ 149, e a grande, por US$ 299.
— Recebi uma ligação de uma universidade dos Estados Unidos que procurava uma foto para usar na matrícula porque eles não tinham — compartilha Remi, que fala português com um leve sotaque.
Na sexta-feira (28), Remi esteve com sua equipe no Hub Formô, no Morro da Cruz, na zona leste, para fazer uma sessão de fotos. O convite partiu do Territórios Inovadores (projeto do Pacto Alegre). Mas já houve trabalhos produzidos também em São Leopoldo, no Vale do Sinos, em Cachoeirinha, na região metropolitana, e em outros lugares da Capital.
— Para mim é uma honra ser uma parte de uma grande jornada. Porque tudo o que faço, não faço sozinha. Tenho uma equipe, amigos e família sempre me apoiando — reflete, citando que a mãe foi uma das primeiras mulheres negras a trabalhar como aeromoça, há 40 anos, em uma companhia americana de aviação.
Integrante do Territórios Inovadores e morador do Morro da Cruz, Michel Couto foi um dos responsáveis por levar o projeto da plataforma de Remi até a comunidade.
— As periferias do RS estão carentes de muitas coisas e trabalhamos forte com o desenvolvimento socioeconômico e com a geração de renda — menciona Couto, acrescentando:
— Se a gente fizer uma pesquisa rápida na internet, não conseguimos fotos de qualidade de pessoas negras em várias situações.
Cerca de 15 pessoas, entre modelos e fotógrafos, participaram da sessão de fotos no Morro da Cruz, alguns eram também moradores do bairro Bom Jesus. As imagens para a plataforma, que ainda não está no ar, estão sendo produzidas em cinco países: Brasil, EUA, Canadá, Nigéria e Quênia.