Cerca de um ano após a inauguração, a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, ainda tem impacto incipiente no transporte de carga no Estado. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem de GZH, esse processo de melhoria no setor logístico está em andamento, mas a consolidação depende de tempo, aumento nas rotas aéreas e instalação física de grandes empresas de courier no Estado. Nesse sentido, afirmam que é difícil mensurar no momento o real impacto da infraestrutura no deslocamento de cargas em maior volume no local.
A Fraport, que administra o aeroporto da Capital, não informa dados mais detalhados sobre o transporte de cargas no complexo, mas oferece levantamento que mostra em linhas gerais o volume movimentado nos últimos anos. O balanço mais recente mostra que 17,1 mil toneladas de cargas foram embarcadas e desembarcadas no primeiro trimestre deste ano no terminal — volume 197,55% maior do que o observado no mesmo período do ano passado, quando a ampliação ainda não havia sido inaugurada. O dado leva em conta cargas, mala postal e courier nos âmbitos doméstico e internacional.
No entanto, a Fraport informa que não é possível determinar, neste momento, “uma relação direta entre a melhoria da infraestrutura feita pela Fraport Brasil e o crescimento da movimentação de cargas”. Parte desse avanço também seria uma resposta ao aumento do tráfego de passageiros pós-período mais crítico da pandemia.
“A carga está sendo transportada atualmente em voos com passageiros. Com a retomada, após o enfraquecimento da pandemia, o tráfego aumentou e, consequentemente, os volumes e valores das cargas também", comentou a chefe de operações da Fraport Brasil, Sabine Trenk, por meio de nota.
A obra de ampliação da pista do Salgado Filho era um pleito antigo, aguardado havia duas décadas pelos gaúchos, e uma das principais medidas para tentar centralizar as exportações por via aérea. Com capacidade para receber aviões de porte maior, como o robusto Boeing 747-400, que carrega até 416 passageiros, o novo complexo abriu porta importante e entrou na rota do transporte de grandes cargas.
Agora, vencida essa etapa, o processo passa por tentativa de ampliação de voos regulares para outros destinos, como Hemisfério Norte e Europa, e instalação de empresas de courier que usam o modal aéreo, segundo o coordenador do Conselho de Comércio Exterior (Concex) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Aderbal Fernandes Lima:
— A pista está aí, foi feita. Foi eliminado um dos gargalos, mas a gente nota que outros aparecem nitidamente. (...) Numa escala de 10 degraus, subimos dois ou três. Isso é bom, mostra uma tendência.
Assim como a Fraport, o dirigente atribui parte desse movimento ao aumento no número de viagens de passageiros com a melhora no quadro sanitário nos últimos meses do ano passado. Lima reforça que o impulso no transporte de carga pelo Salgado Filho também passa pela atração de empresas de courier, que hoje são responsáveis pelo deslocamento de toneladas. A ampliação das estruturas físicas dessas companhias no Estado é importante nesse processo.
Em evento realizado em Porto Alegre nesta semana, a chefe de operações da Fraport Brasil comentou a ampliação da pista, destacando que, com a infraestrutura, “a porta está aberta, precisamos agora pavimentar o caminho dessas oportunidades”.
Processo em curso
O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Câmara Log), Paulo Menzel, afirma que uma análise mais detalhada sobre o impacto da ampliação de pista no transporte de cargas no Estado será possível após um período entre três e cinco anos. Nesse intervalo de tempo, é possível ter uma base de dados para comparação, segundo o especialista.
— Está em curso, em bom curso. Estamos no caminho certo, fazendo as coisas certas para virar o jogo. Mas não temos como medir ainda. Precisa caminhar mais para termos banco de dados para comparações pós-pandemia.
Menzel reforça a necessidade de a Fraport conquistar mais linhas aéreas de carga via Rio Grande do Sul. Isso porque a maior parte das cargas que saem do Estado seguem indo de caminhão para Guarulhos e Viracopos, segundo o dirigente.
O posicionamento da Fraport também destaca o peso desse translado: “Ainda assim, um grande volume de carga é transportado por caminhão, também a longa distância, e em grande parte para SP. O crescimento do tráfego e dos voos diretos regionais e internacionais darão suporte ao aumento do volume de carga transportada”
Dados do Comex Stat, portal do governo federal, também mostram que a maior parte da produção do Rio Grande do Sul ainda é transportada por rodovias até os aeroportos de São Paulo. No entanto, a participação aumentou recentemente. No primeiro trimestre, US$ 170,4 milhões em mercadorias produzidas no Rio Grande do Sul foram exportadas por via aérea. Desse total, apenas US$ 12,3 milhões, ou seja, cerca de 7%, embarcaram no aeroporto Salgado Filho. Mesmo em patamar baixo, esse percentual é maior do que o observado no mesmo período do ano passado (1,6%).