Em 2008, a auxiliar de serviços gerais aposentada Vera Lúcia da Silva Carvalho, 69 anos, buscou pela primeira vez o Sistema Único de Saúde (SUS) para trocar uma prótese no joelho esquerdo. Mas a operação, necessária por conta de uma osteocondromatose, nunca ocorreu.
Atualmente, a moradora do bairro Salomé, em Alvorada, quase não caminha.
— Ela está deprimida, chora muito, não quer nem conversar mais. Não pode sair de casa, ir nas amigas, pegar um ônibus. E eu não sei mais o que fazer para ajudar — diz a filha Lisiane Carvalho Avila, 45 anos.
Primeira consulta com especialista demorou dez anos
A doença que atinge Vera é caracterizada por tumores ósseos benignos e, até 2008, foi tratada por convênio, o que possibilitou a colocação da primeira prótese. Foi apenas quando precisou buscar o SUS que os transtornos começaram.
A primeira consulta com o ortopedista, em Alvorada, demorou 10 anos e foi realizada em 2017, depois de ela pedir ajuda ao Diário Gaúcho. No mesmo ano, ainda passou por especialistas em Porto Alegre, no Hospital Independência, que a encaminhou para o Hospital de Clínicas (HCPA). O DG acompanhou o caso mais três vezes, em 2017 e 2019.
Entenda o caso
- Em 2008, Vera foi encaminhada para um ortopedista em Alvorada. Nove anos depois, em 2017, ainda não havia consultado.
- À época, a prefeitura da cidade pediu que a idosa voltasse à UBS em que recebeu o encaminhamento. Onze dias depois, a consulta foi realizada.
- Em 2018, Vera chegou ao Hospital de Clínicas, referência no tratamento, para viabilizar a cirurgia.
- Em fevereiro de 2019, voltou a procurar o DG sem ter seu caso resolvido. Na ocasião, o HCPA disse que ela estava na posição número 108 de um total de 136 casos.
- No mesmo ano, em julho, o caso voltou às páginas do DG. Vera estava, então, na posição de número 92.
Nome teria "sumido" da lista de espera
Lisiane, que presta apoio à mãe, conta que, desde então, elas esperam pelo HCPA. E que, numa das recentes tentativas de agilizar o caso, acabou se frustrando. Isso porque descobriu, em julho de 2022, que o nome de Vera teria “sumido” da lista de espera do hospital.
– Na última vez, em 2019, eles tinham dito para aguardar. Então, veio a pandemia, e ficamos esperando que eles ligassem, o que nunca ocorreu. Quando fui lá, no meio do ano passado, aparecia que ela não estava mais se tratando – explica.
Para resolver a confusão, Lisiane afirma que procurou os médicos que tratavam Vera. Eles teriam pedido urgência para a reinserção da idosa na lista de espera. Com isso, o nome dela passou a ocupar a posição de número 24.
Medo de não voltar a andar
Vera comenta que se sente sendo tratada com desinteresse:
— Tenho a impressão de que me acham velha demais para gastar tempo e equipamentos. Penso que não vou andar de novo.
Sem perspectiva de conseguir a cirurgia, a aposentada se diz abatida com a própria situação.
— Estou em depressão, porque vejo as pessoas caminhando, e eu esperando uma cirurgia que nunca sai — lamenta.
O que diz o hospital
Em resposta à reportagem, a assessoria de comunicação do HCPA informa que Vera nunca saiu da lista de espera para cirurgia, desde a sua primeira consulta, em 11 de julho de 2018.
Sobre a situação atual da paciente, o hospital afirma que o caso envolve a prótese total do joelho. “Para esse procedimento, a equipe estabelece, entre outros critérios, IMC (índice de massa corporal) limite de 35, o que diminui o risco de infecções, trombose e outras complicações. A última consulta da paciente Vera foi no dia 23 de novembro de 2022. Ela foi avaliada e estava com IMC de 36,12”, complementa.
Por fim, a nota diz que Vera tem nova consulta em 24 de maio, quando será reavaliada e, “estando em condições, seguindo os critérios recomendados, poderá ser encaminhada para a cirurgia, conforme a ordem na lista”.
Produção: Guilherme Jacques