Está quase pronta a pintura em homenagem ao gaúcho José Lutzenberger, um dos maiores nomes da causa ambiental no Brasil, falecido há 20 anos. Faz justiça à sua importância: são 50 metros de altura por 15 de largura que preenchem toda a lateral do prédio do Instituto de Previdência do Estado (IPE), na esquina da Borges de Medeiros com a Aureliano de Figueiredo Pinto, em Porto Alegre.
O mural tem financiamento do Pró-Cultura-RS e é uma encomenda da Virada Sustentável ao artista visual Kelvin Koubik, 33 anos, nascido e criado em Porto Alegre. Há sete dias ele se pendura em andaimes para colorir com tinta acrílica a imagem de Lutzenberger acompanhado de elementos da natureza, grande paixão do ambientalista.
Por enquanto, é possível ver Lutz usando um chapéu com uma borboleta no topo. Com uma das mãos, ele dá pouso a um cardeal do sul, pequeno pássaro de topete e face vermelha, típico da Região Sul, conhecido pela bravura em defender seu território.
Mas a obra ainda será completada por pererecas, abelhas e bromélias, que fazem referência a gostos e lutas específicas do gaúcho que saiu em defesa de causas locais e globais. A previsão é de que o mural fique pronto entre 23 e 24 de novembro. A Virada Sustentável segue até dia 27 com diversas atrações em Porto Alegre.
Formado no Instituto de Artes da Universidade Federal do RS (UFRGS) e adepto do grafite desde os 14 anos, Koubik conhecia brevemente a trajetória de Lutzenberger. Recorda de uma aula de desenho no Jardim Lutzenberger, espaço dedicado ao ambientalista na Casa de Cultura Mario Quintana.
Para elaborar o projeto do mural, estudou um pouco mais da vida de Lutzenberger e visitou o sítio degradado e por ele recuperado na década de 1980, chamado Rincão Gaia, em Pantano Grande, atualmente mantido por sua família.
Soube, por exemplo, que Lutz militava pela agricultura regenerativa, que prega a redução dos agrotóxicos — as abelhas que ainda vão aparecer na pintura estão ameaçadas justamente pelo uso excessivo desses venenos.
Também aprendeu que Lutz era um grande defensor da Amazônia e, por isso, foi reconhecido internacionalmente. Assim surgiu a ideia de incluir as bromélias no mural, plantas típicas de florestas tropicais como a Amazônia e a Mata Atlântica.
Embora Koubik já tenha retratado a natureza em outras obras que decoram a Capital — é dele o mural de 18 metros de altura com uma coruja na Rua da Cultura, na Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), e o mural de 25 metros com uma garça na lateral de um prédio na Siqueira Campos, no Centro Histórico —, nenhuma tem a dimensão que o Mural Lutz promete ter.
Segundo o próprio artista, a imagem poderá ser vista mesmo de longe por quem vem descendo a Borges de Medeiros em direção à Praia de Belas.
— Essa obra vai dar o reconhecimento que a trajetória do Lutz merece. Estou honrado com isso, é algo histórico. Além do mais, está alinhado com o conceito do muralismo mexicano, com a questão política envolvida. O Lutz é amado por muitas pessoas, mas, com certeza, os mais conservadores não concordavam com ele. E isso também está alinhado com o que eu busco como artista: trazer causas importantes para a arte — diz Koubik.
Filha de Lutzenberger e talvez a pessoa que mais preserva o legado do ambientalista, a bióloga Lara Lutzenberger, 52, fica feliz com o reconhecimento que seu pai recebe no ano em que se completam 20 anos de sua morte. Se não lhe falha a memória, é a primeira obra artística que vai cravar seu retrato nas ruas de Porto Alegre.
— Trazer meu pai de volta, com sua mensagem de reverência e integração à natureza, é uma forma de apresentá-lo às gerações mais jovens. A luta dele é mais atual e necessária do que nunca. Já é vital — diz Lara.