Depois da tentativa de furto de uma das placas que contam com a transcrição da carta-testamento do presidente Getúlio Vargas, fixadas sobre uma pedra na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, na Capital, na última terça-feira (20), o próprio autor da obra foi até o local para remover a outra metade.
O uruguaio radicado no Rio Grande do Sul Mario Cladera fez tal movimento na intenção de proteger a obra de outra tentativa de furto e, também, de vandalismo. Ele, agora, buscará um novo método de fixação das duas placas, que são de alumínio anodizado, na pedra, usando cola epóxi e parafusos de aço inox.
De acordo com Cladera, ele retirou a segunda lâmina no último sábado (24) e a levou para o seu atelier, que fica na Cidade Baixa. Agora, o artista espera pela outra metade, que está sob posse da Fundação Caminho da Soberania, responsável por encomendar a homenagem ao ex-presidente do Brasil, para concluir a atualização do projeto.
— Vamos ver se, desta maneira, conseguimos evitar um novo furto. A peça é cara para ser produzida, mas praticamente não tem valor no mercado, se vendidas por peso. Por sorte, quando removeram a primeira placa, não chegaram a danificar, então não é preciso fazer restauro — explica Cladera, que pretende recolocar as lâminas na pedra em até 15 dias.
As duas placas, dispostas lado a lado, reproduzem as últimas palavras escritas por Getúlio Vargas antes de cometer suicídio, em 1954. E o monumento já foi alvo de furto outras vezes.
A peça original, em bronze, foi levada em 1966, 11 anos após a inauguração, e precisou ser substituída em 1975 por uma placa de aço, que foi novamente furtada, em 2014. Desde então, foi instalada uma peça em metal mais barato, como tentativa de desencorajar os crimes. A homenagem havia sido recolocada na Praça da Alfândega em 24 de agosto, após a anterior ter sido furtada, no início do ano.
Segurança
Para José Vecchio Filho, integrante do conselho da Fundação Caminho da Soberania, a escolha do alumínio anodizado para a confecção das placas já buscava baratear a obra, que antes era de bronze e sofria muitos ataques. Porém, mesmo com um material mais em conta, a homenagem não durou um mês.
— A gente vê essa depredação com a mesma tristeza com que vemos todas as outras obras da cidade sendo furtadas e vandalizadas. Mas isso acontece porque existe quem compre. Certamente, deve ser o mesmo mercado que recepta os fios de cobre, que são levados diariamente dos postes da cidade — aponta Vecchio.
Já Cladera lamenta que a sua obra não tenha ficado nem sequer um mês em sua plenitude na Praça da Alfândega, antes da tentativa de furto. Ele também engrossa o coro sobre como o vandalismo em artes e esculturas públicas é uma constante na Capital.
— Lamentavelmente, as artes na cidade não são bem cuidadas. Recebem pouca manutenção, têm pouca iluminação, pouco policiamento. E, além disso, é preciso trabalhar o pertencimento na população, para que as pessoas sintam que aquele patrimônio também é delas — enfatiza o artista.
Comandante da Guarda Municipal de Porto Alegre, Marcelo do Nascimento Silva explicou que o patrulhamento é feito 24 horas por dia, mas com intervalos regulares. Como há muitas praças e parques pela cidade, ele explica que não tem como o agente ficar fixo em apenas um local. Ele destaca que são nos intervalos de tempo entre uma patrulha e outra que os criminosos atuam.
Apesar disso, o comandante enfatiza que foi aumentada a frequência dos patrulhamentos na Praça da Alfândega. Ele destaca também que a Guarda Municipal conta com sistema de videomonitoramento, que ajuda no trabalho de prevenção de furtos e de identificação de suspeitos.
— Nós ressaltarmos a vital importância da contribuição da população através de denúncias no 153, para que a gente possa agir o mais rápido possível. E não apenas nesta praça, mas também na Praça da Matriz, na Brigadeiro Sampaio, na Júlio Mesquita, que são praças que têm monumentos históricos importantes na nossa cidade. Foram dadas prioridades a elas — explica Nascimento.
O comandante da Guarda Municipal ainda destaca que existe um concurso em andamento para aumentar o efetivo da corporação. Assim, ele acredita que uma cobertura maior poderá ser dada às praças e aos parques, especialmente aos que contam com monumentos históricos que precisam de mais atenção.