Foi reinaugurado, na quinta-feira, o monumento com a carta-testamento de Getúlio Vargas, na Praça da Alfândega. Ela já foi substituída outras vezes. Faz 63 anos que Getúlio legou o documento histórico e deu um tiro no peito. Se não estiver enganado, a colocação do monumento foi uma iniciativa promovida pelo jornal Clarim, que era uma espécie de porta-voz do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), logo após o suicídio do presidente.
Recentemente, o leitor Daniel Heuser comentou conosco que essa primeira carta, em bronze, sumiu da pedra sobre a qual estava afixada nos primeiros dias de agosto de 1966. De fato, ZH do dia 3 daquele mês publicou uma nota em que o deputado Siegfried Heuser (último presidente do PTB, primeiro do MDB), seu pai, lançava uma campanha de subscrições para repor a grande placa de metal, com o texto, que havia desaparecido. No dia seguinte ao sumiço da carta, sobre a pedra, apareceu uma foto de Getúlio e um bilhete que dizia: "Um trabalhador inconformado com o desaparecimento da Carta-Testamento de G.V. opina que de nada adianta porque o que nela espressava (sic) está gravado no pensamento do povo brasileiro, este povo de quem Getúlio foi escravo é hoje transformado em escravo de ‘gorilas’. Abaixo a ditadura, abaixo os ‘gorilas’, Viva Getúlio Vargas".
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A mensagem foi divulgada como sendo uma "resposta da subversão aos ladrões". Poucos dias depois, na madrugada de um sábado, dia 6, a estátua equestre do general Osório foi encontrada aos pedaços, caída no chão da mesma praça. A versão oficial é de que o forte vento daquela noite teria lançado o general e seu cavalo ao solo. Mas boatos da época atribuíam a queda a um jipe que, com um gancho, teria derrubado o militar. O jornalista Sérgio Jockyman, em sua crônica do dia 9 de agosto, faz referência à "guerra dos monumentos", que estaria tomando conta da Capital.
Naquele então, o jovem Daniel estava fazendo o serviço militar na 1ª Companhia de Guarda e, curiosamente, vivia os dois lados. Enfrentava o temor de ficar de guarda tanto no quartel quanto em frente à residência dos comandantes do Exército e da Região Militar. Era advertido de que tomasse cuidado, "pois estavam atacando os sentinelas para roubar as armas".
Agora, quando lembra desse período, afirma: "Bah! Vivi as duas vidas, uma de filho de oposicionista e na outra milico da Companhia de Guarda. Meu pai andava com uma escova de dentes e uma barra de chocolate no bolso, caso fosse preso, e nosso telefone sempre tinha um sinal como se tocassem dois telefones. Era uma época que hoje ninguém imagina".