“Alô, mulheres! O carro do óvulo está passando na sua rua!”. A frase, repetida em um carro de som, tem chamado atenção em diferentes bairros de Porto Alegre. Paródia do carro do ovo, a mensagem fala de um assunto sério: os casos em que é permitido por lei fazer aborto no Brasil (violência sexual, risco de vida para a mulher e feto anencéfalo).
Trata-se de uma ação da Frente pela Legalização do Aborto do Rio Grande do Sul (Frepla-RS). Uma das impulsionadoras do grupo, Luana Flores explica que a ideia surgiu durante a pandemia de covid-19.
— A gente fazia marchas para manter o tema sempre em pauta, roda de conversas, panfletagens. Com a pandemia, tivemos que bolar formas de seguir levando a informação a elas, sem ter o corpo a corpo — explica.
O áudio reproduzido pelas ruas da Capital não faz apologia a nada ilegal, destaca Luana. A ideia é fazer com que as mulheres, especialmente as que não têm acesso à internet e a outros meios de informação, saibam dos seus direitos.
— Muitas mulheres fazem aborto por conta e são inclusive criminalizadas tendo a lei a seu favor. Na gravidez resultante de estupro, por exemplo. O estupro é algo complexo na lei, muitas mulheres não sabem que tirar a camisinha sem consentimento durante o sexo é uma forma, ou então relações com mulheres alcoolizadas, sem consciência — acrescenta Luana.
O Carro do Óvulo circula sem uma frequência pré-definida, mas tem feito incursões pela cidade todos os meses. A Frepla tenta conseguir veículos emprestados com sindicatos, mas também já contratou serviços de carros de som. Nesta sexta-feira (26), saiu da região do bairro Azenha em direção à Bom Jesus. O automóvel com uma caixa de som acoplada faz paradas em pontos estratégicos, como Centros de Referência de Assistência Social (Cras), escolas, supermercados e pontos de aglomeração.
— A gente repara a curiosidade das pessoas. Param, ficam olhando, tentando decifrar os cartazes e o que está no áudio — diz a voluntária Fernanda Fedatto, que fez o trajeto dentro do carro nesta sexta. — Todos estão acostumados a ver passar carro de som nos bairros, mas não com esse conteúdo.
Os panfletos que Fernanda levou junto destacam que as mulheres podem buscar atendimento no seu posto de saúde ou em hospitais como o Presidente Vargas, o Conceição, o Fêmina e o Clínicas. O papel ainda destaca que esses lugares estão preparados para acolher a mulher gratuitamente e que, para serem atendidas, elas não precisam apresentar boletim de ocorrência.
A Frepla tira dúvidas também pelas redes sociais ou no WhatsApp (51) 99478-9399.