A Delegacia de Combate à Intolerância investiga a conduta de seguranças do shopping Praia de Belas em Porto Alegre, após o músico Hélder Corrêa, conhecido como Mr. Deco, relatar que foi abordado pelos agentes e impedido de ficar no shopping com seu saxofone no último sábado (9).
O saxofonista, de 45 anos, afirma que estava entrando no local para se encontrar com uma amiga, quando percebeu olhares de um segurança.
— Ele perguntou "o que você tem aí nessa caixa e para onde você vai?" e eu falei "cara, o que eu tenho aqui é um saxofone". Mostrei e falei: "Não interessa aonde eu vou, vou entrar no shopping". Enquanto eu fumava um cigarro, ele entrou em contato com outros seguranças — relatou o músico à reportagem de GZH.
Corrêa também disse que um dos agentes comunicou que ele não poderia entrar no shopping com o instrumento. Ele alega ter sido conduzido contra a própria vontade até a sala de administração, onde teve que deixar o saxofone, sem receber qualquer comprovante da entrega.
Procurado por GZH, o shopping alegou, em nota, que "não tolera qualquer tipo de conduta desrespeitosa ou racista e reafirma que não houve, em momento algum, o tratamento do qual está sendo acusado". Segundo o posicionamento da empresa, "o relato não retrata a realidade dos fatos, que foram minuciosamente apurados com base em imagens da câmera de corpo dos seguranças que registram vídeo e áudio, câmeras de vigilância do shopping, mensagens de Whatsapp trocadas entre o cliente e a gestão do shopping, entre outras provas do ocorrido". "Considerando as regras estabelecidas de uma propriedade privada de uso público, em conformidade com seu código de conduta (fixado em todas as entradas de acesso), o empreendimento sugeriu, de maneira cordial e em comum acordo entre as partes, que todas as pessoas portando instrumentos musicais no interior do shopping no último sábado (09/7) deixassem seus equipamentos no guarda-volumes", argumenta.
O advogado Estevão Zalazar estava com o saxofonista durante a abordagem e alega que a norma não ficou clara.
— Para nós, eles não discorreram nem essa suposta regra, que é extremamente abusiva e fere o direito de ir e vir.
O caso foi registrado em um boletim de ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e encaminhado para a delegada Andrea Mattos, titular da Delegacia de Combate à Intolerância. Ela afirma que a acusação será investigada e que foi solicitada a lista de seguranças que estavam de plantão no dia e as imagens de câmeras de segurança. Andrea também quer ouvir o músico antes de decidir qual será a linha da investigação.
— Nossa linha primeiramente é entender o que aconteceu, porque o histórico da ocorrência é muito resumido. A gente precisa de mais elementos até para fazer a instauração de um processo de racismo. O que a gente tem até então é o que tem nas redes sociais e o histórico da ocorrência — explicou a delegada.
A reportagem de GZH entrou em contato com a empresa de segurança Rudder, que atua no shopping, e aguarda um posicionamento.
Confira a íntegra da nota divulgada pelo shopping:
"O Praia de Belas afirma que o relato não retrata a realidade dos fatos, que foram minuciosamente apurados com base em imagens da câmera de corpo dos seguranças que registram vídeo e áudio, câmeras de vigilância do shopping, mensagens de Whatsapp trocadas entre o cliente e a gestão do shopping, entre outras provas do ocorrido.
Considerando as regras estabelecidas de uma propriedade privada de uso público, em conformidade com seu código de conduta (fixado em todas as entradas de acesso), o empreendimento sugeriu, de maneira cordial e em comum acordo entre as partes, que todas as pessoas portando instrumentos musicais no interior do shopping no último sábado (09/7) deixassem seus equipamentos no guarda-volumes.
O mesmo procedimento foi adotado para mais de um visitante, sem qualquer relação com a cor da pele - e as câmeras mostram exatamente o mesmo atendimento, sempre educado e cordial. O Praia de Belas não tolera qualquer tipo de conduta desrespeitosa ou racista e reafirma que não houve, em momento algum, o tratamento do qual está sendo acusado.
Com o objetivo de garantir o bem-estar e a segurança de todos os seus clientes, lojistas e colaboradores, o empreendimento adota um procedimento padrão em casos de grandes eventos previstos para acontecer no seu entorno, como Carnaval, manifestações, shows, partidas de futebol e outras aglomerações de qualquer natureza. O Praia de Belas aproveita a oportunidade para esclarecer que não são permitidas manifestações de qualquer espécie no interior do empreendimento, de acordo com suas normas de segurança e código de conduta."