O monumento dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, situado na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre, vai ter novamente o livro, que já foi furtado em mais de uma oportunidade, na composição da obra.
— A previsão é de que a peça esteja colocada no lugar de origem até a Feira do Livro — revela a escultora Eloisa Tregnago, que participou da realização da escultura em coautoria com Xico Stockinger.
Na manhã desta quarta-feira (27), a escultora visitou o monumento e tirou medidas utilizando uma agenda como modelo. A artista estava acompanhada do escultor Mario Cladera, que será o responsável por fundir o livro na Casa de Cultura Plauto Cruz, onde possui ateliê.
O monumento, composto por um banco e duas estátuas, foi encomendado para Xico Stockinger pela Câmara Rio-Grandense do Livro, por ocasião da 47ª Feira do Livro de Porto Alegre. A obra foi inaugurada em 26 de outubro de 2001. Desde então, é um dos principais cartões-postais da cidade e ponto de referência para turistas e visitantes registrarem fotos.
Na semana passada, a obra foi vandalizada com tinta amarela. Eloisa compartilha que não ficou nem chocada, nem triste ao saber do fato.
— Formou-se há décadas uma cultura de desrespeito à propriedade público-privada — diz. — É aquela cultura de "vamos destruir aquilo que não somos capazes de criar" — acrescenta.
Enquanto fazia as medidas e simulava como o livro ficará nas mãos do poeta Drummond, que está de pé no monumento, algumas pessoas paravam para tirar fotos e demonstravam admiração ao saber que ali estava a coautora da obra.
— Tecnicamente, a obra é fantástica e capta a essência e a troca de ideias entre dois gênios — avalia o vigilante Ramon Ferreira, natural de Rondônia, que está realizando exames na Capital. O visitante conversou com Eloisa e pediu para tirar fotos com ela.
A agricultora Marivane Andres e o motorista Diego Prill, ambos de São Paulo das Missões, chegaram juntos à praça. Aproveitaram para conhecer o monumento e tirar fotos.
— É muito lindo mesmo — elogia ela, enquanto Diego, que não pode falar por ter passado por uma cirurgia no maxilar, mostra o sinal de positivo com o dedo.
O escultor Mario Cladera também divide seu sentimento:
— É uma coisa que vou fazer para o povo de Porto Alegre ter novamente seu patrimônio como deve ser — observa, estimando em dois meses o tempo para fundir o livro e colocá-lo no monumento.
Criar uma obra tão simbólica gera histórias desconhecidas da grande maioria do público. Eloisa conta que a cabeça de barro que serviu de molde para esculpir o poeta Drummond teve uma outra função curiosa.
— A cabeça ficou no ateliê e foi usada durante muito tempo como moradia por um casal de morcegos — diverte-se.
A relação de afeto da escultora com a obra é explícita. E um segredo pessoal é compartilhado.
— Fiz questão de trazer meu cachorro Alemão, que ficou comigo por 13 anos, para conhecer a estátua antes de morrer. Trouxe ele em um carrinho, porque ele já não podia mais andar. Na ocasião, coloquei ele sentado no banco — recorda, destacando que o cão foi presente do amigo Stockinger para ela.
O que diz a prefeitura
Questionada como poderá garantir a segurança e a vigilância das estátuas, a prefeitura de Porto Alegre respondeu, por nota, o seguinte:
"Segundo a Diretoria de Patrimônio e Memória da SMCEC, o monitoramento na Praça da Alfândega foi reforçado pela Guarda Municipal visando inibir ações de vandalismo. Além disto, são rotineiras as vistorias de técnico da Diretoria de Patrimônio e Memória para verificação do estado de estátuas e monumentos na cidade. Os roteiros são planejados pela secretaria que trabalha em conjunto com a GM."