Familiares e amigos de Alice de Moraes, jovem de 27 anos que morreu em show da cantora Luísa Sonza no Pepsi On Stage, em Porto Alegre, protestaram neste domingo (24) no Parque da Redenção. A mobilização iniciou por volta das 15h, nas imediações do Monumento ao Expedicionário, com um grupo de pessoas exibindo cartazes apelando por justiça.
Alice morreu na madrugada de 17 de julho, após passar mal no show e ser atendida pelo serviço médico da empresa Transul, contratada da Opinião Produtora, responsável pela organização do evento. Conforme afirmaram os presentes no ato deste domingo, a jovem foi vítima de negligência na prestação de socorro.
Na ocasião, ela estava acompanhada pela amiga Camilla Rodrigues, a primeira pessoa a ser avisada de que Alice havia passado mal e estava sob os cuidados da equipe médica de plantão, e da irmã Andréa de Moraes, que também estava no show, em outro setor. Andréa relatou que, ao chegar até a ambulância em que Alice estava sendo atendida, a irmã já tinha os sinais vitais baixos, mas, segundo ela, nenhuma medida havia sido tomada pela equipe responsável.
Conforme afirmam Camilla e Andréa, o Samu só foi acionado cerca de 1h30min após a chegada de Alice à ambulância da empresa Transul, por insistência das duas. Quando o serviço de emergência chegou ao local, a jovem já havia morrido. Elas acreditam que houve descaso no atendimento.
— A nossa reivindicação é o nã0-atendimento da minha irmã, o tempo que ela ficou ao lado de uma ambulância sem nenhum atendimento e essa negligência que ocorreu. A gente quer algum tipo de justiça para ela. A gente não está interessado na causa (da morte), a gente está interessado no porquê de ela ter ficado todo o período do lado de fora de uma ambulância sem nenhum tipo de atendimento — disse Andréa. — Enquanto não houver justiça, a gente não vai parar. Ela era uma pessoa sensacional e semeou muita coisa.
Amigos e familiares presentes na manifestação se emocionaram ao ouvir a canção Estrelinha, de Marília Mendonça e Di Paullo & Paulino, tocada em uma caixa de som. A mãe da jovem também acompanhava o ato e, visivelmente abalada, recebeu as condolências dos manifestantes.
Com o auxílio de um megafone, alguns dos presentes pediram por justiça e exaltaram a personalidade de Alice, lembrada como alguém amorosa. A tia da jovem, Carolina Medaglia, lembrou a atuação da sobrinha na defesa dos animais. Ela iria se formar em Medicina Veterinária no próximo ano.
— A nossa maior dor e a nossa maior indignação é que qualquer bichinho de rua que passou pela frente da Alice foi tratado com mais respeito e dignidade do que ela foi tratada quando precisou. Quem conheceu a Alice, viu o respeito e a generosidade que ela tinha com qualquer ser vivo, mas ela não foi tratada com dignidade — disse a tia.
A morte de Alice é investigada pela Polícia Civil.
O que dizem as empresas
Conforme informado pela Transul em nota enviada a GZH no dia 20 de julho, o atendimento da jovem iniciou por volta das 3h30min. Já as acompanhantes da jovem afirmam que ela chegou à ambulância da empresa antes das 2h, mas não recebeu nenhum socorro por pelo menos 1h30min. Na nota, enviada pelo advogado João Adriano da Silveira Vianna, a empresa afirma lamentar o ocorrido e diz estar contribuindo com as autoridades para o esclarecimento do fato.
A Opinião Produtora, realizadora do show, afirma que seguiu todas as exigências e protocolos de um evento. A empresa disse ainda estar no aguardo da elucidação do fato.
Confira nota da Transul na íntegra
"A Transul Emergências Médicas vem à público manifestar-se sobre atendimento ao evento cultural realizado na casa de eventos Pepsi On Stage em Porto Alegre, no dia 16/07/2022.
Foi realizada contratação de Ambulância de Suporte Básico — USB, conforme portaria 2048/2002 do Ministério da Saúde, para atendimento ao evento das 17h às 5h.
Por volta das 3h30min recebemos, dos seguranças do evento, solicitação de atendimento à 'Alice Moraes', 27 anos, que foi conduzida pelos mesmos até a ambulância. Foi realizado atendimento na ambulância e regulação médica com objetivo de remover paciente para serviço de urgência e emergência. Logo após regulação inicial paciente evolui rapidamente com piora do quadro geral, entrando em parada cardiorrespiratória, imediatamente iniciou-se atendimento conforme protocolo BLS (Basic Life Support) e foi acionado recurso de Ambulância com Suporte Avançado — USA para atendimento no local, sendo mantido protocolo de atendimento até o momento em que foi orientado cessar reanimação cardiopulmonar por médico da ambulância da Samu presente na cena e quem atestou óbito da paciente.
Posteriormente, foram comunicadas as autoridades policiais sobre o fato.
Seguindo a legislação brasileira não nos é permitido fornecer dados pessoais, relatórios, exames ou boletins de atendimento da paciente, salvo para os seus representantes legais, autoridade policial ou ainda por ordem judicial.
Lamentamos profundamente o desfecho do fato ocorrido e prestamos nossa solidariedade e condolências à família.
Permanecemos à disposição para colaborar com o que for necessário para esclarecer fatos relacionadas ao atendimento."