A agenda do Carnaval de 2022 em Porto Alegre, ainda impactada pela pandemia de coronavírus, pode levar os blocos de rua a fazer suas festas em novembro. Essa hipótese será debatida em reunião entre a Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e representantes de cada grupo, marcada para a próxima segunda-feira (9), um dia depois dos desfiles das escolas de samba. No entanto, nem o Ziriguidum nem o Bloco da Laje, dois dos maiores movimentos da cidade ligados ao Carnaval de rua, tinham sido convidados para tal reunião até as 15h desta quarta-feira (4).
O céu cinzento e chuvoso predominante nos primeiros dias de maio será o clima apenas dos desfiles das escolas de samba no Porto Seco. Ainda não há definição do local nem das datas de uma eventual festa dos blocos de rua. Uma das alternativas ventiladas entre fevereiro e março, quando a programação original foi suspensa pela prefeitura, era levar o Carnaval de rua para a região do 4º Distrito, algo que não avançou.
— É uma festa que mobiliza muita gente, cerca de 40 mil pessoas. Não teríamos tempo hábil nem capacidade de investimento para atender de maneira a garantir uma festa bacana e segura para todos — pondera Jonathan Rickes, do QuartoPoa, coletivo de empreendedores que foi responsável pelo St. Patrick’s Day deste ano e tem planos de atrair eventos para aquela parte da Zona Norte.
O último bloco a ocupar as ruas da cidade para fazer a festa no circuito oficial, em 2020, dias antes de a covid-19 chegar à Capital, foi o Ziriguidum Batucada Social. Antes dele, naquele longínquo domingo de Carnaval, 8 de março, também tomaram a Orla do Guaíba os blocos Ai Que Saudade do Meu Ex, Bloco dos Anjos, que é dedicado às crianças, o Dinobico's e o Filhos do Cumpadi Washington. De lá para cá, sem chance de reunir pessoas nas ruas gratuitamente com a mesma segurança sanitária de festas particulares fechadas, os blocos precisaram se reinventar.
O Bloco da Laje organizou uma loja on-line vendendo itens como canecas, camisetas, copos e ecobags. O lucro complementa o financiamento coletivo contínuo, intitulado Clube Laje, por meio do qual é possível fazer aportes financeiros mensais. As duas fontes de renda e a saudade dos foliões mantiveram vivas as memórias e alimentaram as expectativas de novos dias de bloco na rua. Nesta retomada gradual das atividades depois de dois anos de conteúdo virtual, os ensaios presenciais começam a voltar aos poucos, ainda sem a perspectiva de uma data definida pela prefeitura para estar nas ruas da cidade.
— Vamos seguir nosso calendário tradicional nas ruas, começando na primavera. Em breve lançaremos nas nossas redes o retorno das nossas atividades presenciais — explica Julia Ludwig, participante do núcleo diretivo e brincante do Bloco da Laje.
O Ziriguidum Batucada Social já voltou a fazer ensaios presenciais ainda em outubro de 2021, esperando desde então pela data que a prefeitura indicaria para fazer a festa de rua. A data ainda não veio, mas o grupo encontrou em eventos de festas privadas uma chance de aquecer os tambores enquanto a autoridade oficial não viabiliza a mobilização popular.
— Retomamos no final de outubro, e agora estamos funcionando independentemente do Carnaval com oficinas, ensaios e programação nossa. Com toda dificuldade de falta de apoio e de encontrar um local para fazer a festa sem incomodar as pessoas que não gostam do barulho, seguimos. Se nos chamarem amanhã para tocar, nós vamos — diz Flavio Muller, representante do bloco Ziriguidum.
Um terceiro representante de grupos consultado pela reportagem, Lucio Weber, presidente da União dos Blocos Carnavalescos da Cidade de Porto Alegre, também afirmou que não tem informações de reunião marcada para a segunda-feira. No entanto, mencionou uma conversa agendada para a quarta-feira da próxima semana (11). A data citada por ele não é conhecida pelos outros dois representantes de blocos entrevistados por GZH nem havia confirmada pela assessoria da SMC até a publicação desta matéria.