A ciclofaixa em construção na Rua Lopo Gonçalves, no bairro Cidade Baixa, tem se tornado um motivo de preocupação com futuros acidentes antes mesmo de estar liberada para a utilização das bicicletas. O traçado da ciclofaixa, entre carros estacionados e em movimento, se soma a dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para respaldar o alerta: foram 24 ciclistas feridos em acidentes em 2021 e 46 em 2022, na comparação do período entre janeiro e fevereiro dos dois anos, o que representa alta de 91%. A relação com os números absolutos pode ser conferida abaixo.
Se a comparação ocorrer no mesmo período entre os anos de 2019 (quando não havia a pandemia da covid-19) e 2022, o crescimento também é evidente. Foram 23 ciclistas feridos em acidentes em 2019 e 46 este ano. Ou seja, aumento de 100%.
Os últimos números fechados anuais também apresentam aumento. Em 2019, foram 160 ciclistas feridos em acidentes com bicicletas. O total saltou para 253 em 2021, o que corresponde a um aumento de 58,12%, ou 93 casos a mais. Nos últimos quatro anos, a zona sul da Capital liderou a lista com o maior número de vítimas de acidentes com bicicletas, exceto em 2021, quando a Zona Norte teve 76 casos.
O Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre atendeu 44 pessoas envolvidas em acidentes com bicicletas entre 1º de janeiro e 4 de março deste ano. Foram 25 atropelamentos, o que equivale a 56,82% dos acidentes, 17 colisões e duas quedas. Não houve vítimas fatais.
Entretanto, de 2019 até março deste ano, as vítimas atendidas no HPS somam 896. Estiveram na instituição em busca de atendimento 308 pessoas em 2019, 265 em 2020, 279 em 2021 e 44 até sexta-feira da semana passada (4). Percebe-se uma diminuição em 2020, ano em que a pandemia da covid-19 começou, em relação ao ano anterior e ao posterior.
Ciclofaixa segue causando polêmica
Em meio às preocupações com a possibilidade de acidentes futuros, moradores da região da Lopo Gonçalves com a Rua General Lima e Silva e ciclistas seguem criticando a forma como a ciclofaixa está sendo pintada.
— Achei estranho porque a distância que deixaram do meio-fio para a ciclofaixa é de apenas um carro. A gente tem no bairro um movimento contínuo de caminhões de descarga — atesta a ciclista Aline More, que trabalha como entregadora e desaprova o que está sendo realizado pela prefeitura na Lopo Gonçalves.
Questionada por que não optou por fazer uma ciclofaixa bidirecional na rua ou não criou uma faixa de separação para evitar acidentes com a abertura das portas dos carros, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) respondeu por meio de nota. Confira a íntegra:
“A faixa no modelo do implantado só é utilizada em locais com velocidade até 30km/h. Um espaço destinado com coloração diferenciada dá mais segurança e visibilidade para os ciclistas. Em diversas outras ciclovias, o estacionamento é permitido ao lado da ciclovia, como na Mauá e na José do Patrocínio. Em alguns casos em lados diferentes (motorista e carona do veículo). Os ocupantes do carro têm obrigação de olhar antes de abrir a porta do veículo para não atingir uma moto, carro, pedestre, ciclista, etc. Isso com ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota ou não, pois o ciclista anda ao lado do carro estacionado e não no meio da via."
Sobre as causas do aumento dos acidentes com feridos envolvendo ciclistas, a EPTC enviou a seguinte nota:
"Primeiramente, o que aumentou 91% foi número de ciclistas feridos em acidentes no período mencionado (24 feridos em 2021 e 46 feridos em 2022). O aumento do número de acidentes envolvendo bicicletas foi 61% nos primeiros dois meses do ano (19 acidentes em 2021 e 50 acidentes em 2022).
Nesse contexto, é relevante observar que houve também um aumento de 26 mil viagens por bicicletas compartilhadas (TemBici), no mesmo período. Em complemento a esse dado, é perceptível o aumento de ciclistas também entre os que fazem uso de bicicletas particulares, o que será medido no período típico de pesquisa de campo (contagens) que acontece entre março e dezembro."