A colheita das azeitonas que produzem 70% do azeite de oliva de todo o país será celebrada pelos produtores gaúchos nesta sexta-feira (4), em Viamão. O 10º evento anual de abertura desse período importante para o agronegócio do Estado marcará, ainda, a reaproximação do cultivo com o público. Em 2021, a cerimônia não foi realizada por conta da pandemia. Especialistas, olivicultores e autoridades se reunirão na Estância das Oliveiras para celebrar a chegada de mais uma safra otimista, apesar da estiagem.
— Apenas alguns produtores que têm a colheita tardia, a partir do final de fevereiro, que tiveram impactos maiores da estiagem. De resto, esperamos uma safra tão boa quanto a de 2021, com cerca de 200 mil litros de azeite — analisa o coordenador da câmara setorial da citricultura e olivicultura da Secretaria Estadual de Agricultura, Paulo Lipp.
A cerimônia, marcada para se iniciar às 8h de sexta, contará com a presença do governador em exercício, secretário de Segurança Pública e vice-governador Ranolfo Vieira Jr., e outros 300 convidados. Haverá uma colheita simbólica do que seriam as primeiras azeitonas da safra de 2022, ainda que os 190 produtores gaúchos já estejam cumprindo essa etapa do processo desde a metade de fevereiro, solenidades e almoço comemorativo — com direito a azeite de oliva fresco recém-processado no local.
— Até mesmo a queda hídrica pode ser vista como interessante para o caso das azeitonas, pois o chamado estresse hídrico acaba ressaltando aspectos aromáticos do fruto. Estamos nos encaminhando para ser uma referência nacional e internacional, tendo em vista que já somamos mais de 300 medalhas em todos os continentes, onde disputamos com produtores com tradição de mais de cem anos produzindo azeite — pondera o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes.
A Estância das Oliveiras, um desses produtores gaúchos mundialmente premiados, foi o local escolhido para a celebração por ser uma referência também no ramo do turismo.
— Além de fazer um azeite de nível mundial, nosso propósito é aproximar o público dessa produção, porque geralmente o acesso é difícil em propriedades mais destacadas geograficamente — comenta Rafael Goelzer, um dos gestores da Estância das Olivas e dos anfitriões do evento organizado pelo Ibraoliva e pelo governo estadual.
"Capricho brutal"
Rafael Goelzer e seus pais supervisionavam nesta quinta-feira (3) os últimos detalhes da montagem do evento em sua propriedade. Enquanto a matriarca Sônia, 75 anos, recebia uma equipe da TV Globo para gravar uma participação no programa É de Casa, Lucídio, 78 anos, caminhava entre alguns de seus 3,5 mil pés de oliva, o quintal da família, com pouca sombra, mas muito orgulho das árvores ali plantadas.
Há 17 anos, seu Lucídio abriu o negócio por acreditar que era possível consumir azeite de oliva melhor do que aquele que ele encontrava nos mercados gaúchos. Respeitando os produtores locais que vieram antes dele, explica que começou pesquisando as referências regionais e passando trabalho para corrigir o solo e aprimorar as técnicas para que o chão de Viamão recebesse uma cultura acostumada com terrenos mais secos e temperaturas mais amenas.
— Comecei com 25 árvores. Errei em todas — relembra Lucídio.
Alguns prêmios mundiais e nacionais depois, ele revela alguns segredos da produção de mais de 30 tipos de azeitonas em suas terras. Suas experimentações levaram a uma combinação inusitada para quem não está familiarizado com o conceito de adubagem. A fórmula que “alimenta” cada pé de azeitona leva gema de ovo, carvão vegetal, resíduos milimétricos de pedra basalto — chamada por ele de “pó de rocha” — ao redor das raízes no chão. Esse composto orgânico e o solo com a acidez neutralizada resultam na matéria-prima para um azeite saboroso.
— É tudo cuidado com um capricho brutal — ele descreve, orgulhoso por lembrar de cada elogio que já recebeu pelos azeites que foram gerados ali.
Produção artesanal
Apesar do maquinário moderno, a Estância das Oliveiras mantém sua escala de produção focada na qualidade, e não na quantidade. Caren Ricardo, bióloga responsável por conduzir as degustações no lagar — nome do local onde os sumos são obtidos a partir do processamento das azeitonas —, explica que cada unidade do fruto leva menos de seis horas entre o momento em que é tirada do galho até sua conversão em azeite.
— Quanto mais fresco, melhor — resume, antes de servir copos de azeite para sentirmos os aromas, gostos e retrogostos.