Heloísa Michel de Oliveira, oito anos, chegou ao Centro da Saúde IAPI, em Porto Alegre, feliz da vida no dia 1º de fevereiro. Poderia enfim, tomar a primeira dose da vacina contra a covid-19, depois de ver os pais já vacinados há algum tempo. Porém, na triagem para o atendimento, uma surpresa. Um erro no cadastro de Heloísa não permitia que recebesse o imunizante. Os pais foram orientados a buscar atendimento no posto de saúde de referência da família.
Neste caso, o local era a Unidade de Saúde (US) Santa Cecília, no bairro homônimo, na região central de Porto Alegre. Chegando lá, veio a surpresa: no sistema onde constavam os dados de Heloísa, uma informação apontava o óbito da menina, cerca de um mês depois do nascimento, quando o registro foi enviado para o Ministério da Saúde.
A reação da família foi de indignação por não poder imunizar a filha contra a covid-19, mesmo ela tendo tomado todas as outras vacinas ao longo da vida e possuindo documentos que atestam que está viva, como carteira de identidade e até passaporte.
— Ela chegou feliz que ia se vacinar e recebeu essa notícia. Até me perguntou o que era óbito, assustada — recorda o pai, o bancário André Dorneles de Oliveira, 43 anos.
No posto Santa Cecília, foi feito um registro do problema e encaminhado o pedido de ajustes ao Ministério da Saúde. A expectativa era de que tudo fosse resolvido em dois dias úteis, conforme o pai ouviu no local. Mas, passado o período, a versão mudou. A demora seria maior em razão da alta demanda de solicitações que o Ministério está atendendo neste período de pandemia. Até a manhã desta sexta-feira (11), Heloísa ainda não conseguiu tomar a primeira dose da vacina contra a covid-19.
— Foi um erro humano, alguém que registrou sem querer. Minha filha tem todos os documentos que comprovam que está viva. Por que não pode tomar essa vacina, sendo que já tomou todas as outras que deveria desde o nascimento? — questiona o pai.
Diante da demora, André abriu reclamação junto à ouvidoria do SUS na terça-feira. O encaminhamento também segue sem resposta.
Preocupação com volta às aulas
A maior preocupação da família é com o retorno das aulas presenciais e o fato de Heloísa não estar imunizada ainda, mesmo que só com a primeira dose. Além disso, a esposa de André, a médica Regina Schwerz Michel, 40 anos, deu à luz a segunda filha do casal, Cecília, há apenas 13 dias.
— Queria que alguém tivesse o bom senso de dar a vacina, depois arrumem o cadastro. Queremos que a família esteja protegida. Em 2022, em plena pandemia, estamos sendo impedidos de vacinar a nossa filha por um erro de sistema cometido há oito anos. É um absurdo — diz André.
Prefeitura vacinará Heloísa nesta sexta-feira
GZH entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O órgão confirmou que "a criança consta como morta no SI PNI" (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações). A pasta afirma que "foi um erro de digitação de alguma equipe de saúde". Segundo a SMS, o trâmite para resolver o problema está sendo seguido, com a solicitação da alteração para o Ministério da Saúde, mas a secretaria afirma que "essas alterações costumam demorar".
Entretanto, a pasta garante que a menina não terá o atendimento prejudicado, podendo ir na Centro de Saúde Santa Marta, no Centro Histórico, para receber a primeira dose do imunizante contra a covid-19. O atendimento deve ser feito ainda nesta sexta-feira.
Ministério da Saúde corrige cadastro
Em nota, o Ministério da Saúde informou que "os operadores do CadSUS Web no município detêm permissão de acesso ao sistema para realizarem tais correções quando identificadas". No entanto, o próprio ministério afirma que "fez a correção necessária" nesta sexta-feira. Portanto, o cadastro de Heloísa não consta mais como óbito na base do SUS.
O órgão ainda ressaltou que as secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem cumprir a portaria que regulamenta o Sistema Cartão Nacional de Saúde. Pelo documento, um erro no cadastro ou impossibilidade de consultá-lo não pode impedir o atendimento. Sendo assim, Heloísa deveria ter sido vacinada e depois a correção seria feita.