Uma fachada colorida, formada pelo mosaico de pequenas pedras, chama atenção em meio ao emblemático cenário dos arredores da rodoviária de Porto Alegre. Os mais desavisados podem não perceber, mas o nome do local é facilmente descoberto quando os olhos se deparam com sete letras dispostas abaixo das janelas. Trata-se da Ksa Rosa, um centro de educação popular e resistência cultural.
O espaço é multiuso: funciona como ambiente de acolhimento para catadores e moradores de rua da Capital (principalmente das proximidades), serve de local de passagem a imigrantes, além de ser usado por artistas que buscam promover a mensagem da integração social. Para que tudo funcione, a principal fonte de renda chega por meio da coleta de materiais recicláveis. Outras atividades, como a fabricação de sabão artesanal e a venda de souvenires, também auxiliam nas despesas. Entretanto, a maior engrenagem é a força de vontade humana.
Transformação
Foi Maristoni Moura, 49 anos, quem idealizou o coletivo Ksa Rosa para promover a política da redução de danos, cujo objetivo consiste em minimizar possíveis consequências adversas do uso de drogas. Despejada de uma antiga ocupação, ela se deparou em pouco tempo com o sobrado localizado na Rua Voluntários da Pátria, 1.039. A construção de dois andares já havia sido comércio, abrigo de menores e delegacia de polícia, mas estava abandonada.
— A casa pegou fogo e o tráfico tomou conta. Depois, a polícia expulsou todo mundo. Pensei que, por conta dessa origem, poderíamos transformar em um local de conselhos, de organização comunitária — relembra a coordenadora. — A gente ganhou em 2016 o direito para desenvolver, ali, nossas ações — completa.
A principal regra para os interessados em receber ajuda do projeto é não utilizar drogas, bem como estar disposto a aceitar o tratamento adequado para abandonar o vício. Eliandro Lima, 37 anos, tornou-se um exemplo. Frequentador há mais de cinco anos e companheiro de Maristoni, ele se livrou da dependência e hoje multiplica o conhecimento adquirido.
— Eu puxo carrinho, também ajudo na limpeza daqui. A gente traz o material recolhido, coloca na mesa, classificamos e acumulamos para, depois de um tempo, conseguir um preço justo — comenta, orgulhoso sobre o trabalho que mudou sua vida.
Parceria com curso de Arquitetura rendeu frutos
A iniciativa conta com aliados importantes que auxiliam em diversos aspectos. Motivado pela necessidade de apresentar diferentes realidades, o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) criou em 2017 a disciplina de Projeto Arquitetônico II, na qual os alunos podem colocar em prática o que aprenderam na sala de aula.
— Tipo um casamento — afirma a fundadora da Ksa Rosa em relação à parceria, que é renovada a cada seis meses e já rendeu a reforma da biblioteca, a adequação dos banheiros, a criação de uma sala de alfabetização, o embelezamento da fachada, entre outras modificações.
Novidades estão a caminho. Um documentário sobre a história do coletivo será divulgado nos próximos dias. O trabalho é fruto da participação de Maristoni no Câmera Causa 2019, uma oficina dentro do festival Cine Esquema Novo voltado para grupos em vulnerabilidade social, escolas públicas e demais projetos sociais que queiram ganhar mais visibilidade. Nela, os alunos aprendem a realizar curtas-metragens com seus próprios celulares. Outro grande desejo é a publicação de um livro sobre boas práticas na reciclagem.
— Queremos acessibilizar a cultura. O objetivo é fazer com que os trabalhadores de rua possam assistir um filme, uma sessão de teatro, um sarau, que são as atividades promovidas por nós — ressalta a líder.
Para saber mais sobre a Ksa Rosa
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