Quatro meses depois de chegar a Porto Alegre, a Carreta Balão Mágico da Alegria pode estar com os dias de shows contados na cidade. A queda de movimento entre dezembro e janeiro e o recrudescimento da pandemia fizeram o caminhão mais colorido, barulhento e animado da orla do Guaíba rever os planos de alongar as raízes no Rio Grande do Sul.
O gerente Luciano Bacan, 46 anos, de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, está há mais de dois anos realizando passeios musicais pelo Estado, mas vive, no verão da Capital, seu pior momento comercial. Além das férias escolares terem levado parte do público para o litoral, a alta nos casos de covid-19, a crise econômica e as temperaturas acima dos 30 graus são outros motivos mencionados como hipóteses para a queda de movimento.
— Gostamos tanto daqui que até pensei em vender a casa em São Paulo para ficar de vez — confessa, lamentando o sumiço dos clientes: — Caiu muito o movimento, muito mesmo. A ponto de alguns dias não fazer bilheteria suficiente para as despesas. Dizem que o povo foi para as praias, então não sei se vamos voltar a rodar pela Orla ou não.
Segundo suas contas, o custo de operação por final de semana é de R$ 4 mil. Suas despesas começam com os três dançarinos fantasiados, alimentação e segurança dos funcionários, além de diesel para movimentar o veículo e outros gastos menores. Bacan diz que praticamente não operou passeios nas últimas três semanas por falta de passageiros suficientes, ou com o mínimo possível para bancar a festa sobre rodas.
— É complicado porque, se faz calor demais, o povo não sai, mas, quando tá muito frio, o povo também não sai — analisa, observando a sequência de dias com sensação térmica passando dos 40°C em pleno período de férias de verão em Porto Alegre.
Os ingressos para os passeios com música e performance dos personagens incorporados pela equipe, com duração média de 40 minutos entre a Usina do Gasômetro e o Estádio Beira-Rio, seguem custando R$ 10 para menores de 12 anos e R$ 20 para maiores de 13. A alternativa para procurar um novo público que comprasse todos os 60 lugares de cada viagem foi se afastar do Centro:
— De dezembro para cá, tentamos fazer bairros diferentes. Tivemos algum sucesso no Rubem Berta e na Restinga, por exemplo, onde baixamos o preço do ingresso adulto, mas agora já estamos estudando buscar outra cidade.
Linha Turismo foi descartada
Quando chegou à capital gaúcha, Bacan chegou a conversar com a prefeitura para ser um dos novos operadores da Linha Turismo. No entanto, percebeu nos primeiros dias na cidade que sua carreta não poderia realizar os passeios por pontos históricos por conta de a altura do veículo ser maior do que o vão inferior de alguns viadutos dos trajetos possíveis.
Os tradicionais ônibus com bancos no topo saíram de operação em março de 2020, por conta da pandemia. O serviço passará a ser oferecido por empresas, que ainda buscam a aprovação da prefeitura, a partir de fevereiro. Perguntado se a operação do trajeto de turismo, serviço consolidado na Capital desde 2003, não seria uma solução para compensar o prejuízo das últimas semanas, o paulista para no preço que teria de ser investido para ter um veículo adequado.
Os veículos antigos, modelo 2012 e com as adaptações necessárias, estavam disponíveis para leilão realizado pelo Banrisul, porém, nenhum comprador se apresentou para fazer lance nesta quarta-feira (26). Cada coletivo será oferecido novamente em 1º de fevereiro, com lance mínimo de R$ 629 mil.
— Para mim esse valor já não dá — reforça Bacan.