A maior pintura já feita em Porto Alegre começou a tomar forma no fim da tarde desta quinta-feira (9). Para marcar o início do trabalho, um evento com artistas, entidades e apoiadores da ação foi realizado no Largo dos Açorianos, na Avenida Loureiro da Silva.
A obra de arte com 65 metros de altura e 15 de largura, que cobrirá a lateral do prédio do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer)/Procuradoria-Geral do Estado (PGE), já desponta no horizonte de quem atravessa a Avenida Borges de Medeiros. A estimativa é de que o trabalho seja concluído antes do Natal. Os responsáveis pela tela a céu aberto são os artistas Mona Caron, da Suíça, e o paulista Mauro Neri.
Suspensos em dois balancins, os artistas trabalharam durante a tarde nos primeiros traços da figura, que recebeu marcação a laser, na última terça-feira (7). A imagem traz uma mulher negra segurando uma planta nativa do Sul, a Justicia gendarussa, que é conhecida como quebra-demanda pelas religiões de matriz africana.
— É uma honra sem tamanho. Vai emergir uma imagem que vai dar espaço para várias interpretações. Tem algo muito especial em cada elemento que vamos colocar. Inclusive essa plantinha. Eu pintei muitas plantas nos últimos anos. Quando eu pesquisei sobre plantas locais, achei muito interessante porque ela é utilizada de forma cerimonial na umbanda. Espero que ao final da obra tenhamos uma mulher que pode falar melhor sobre essa planta do que eu — disse Mona.
Integrante da ONG Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (Lappus) e responsável pelo Projeto de Incentivo à Arte Urbana, que promoveu a intervenção, Marcelo Sgarbossa ressalta que a obra ajudará a inserir Porto Alegre no cenário mundial da arte urbana. Ele destaca que Mona já havia demonstrado interesse em colorir a parede do prédio do Daer em 2013, quando veio ao Brasil, e que nesta nova visita surgiu a oportunidade.
— Já foram feitos outros quatro murais. É um processo de embelezamento para além da exploração da cidade apenas com material publicitário, transformando-a em uma galeria a céu aberto — sublinha.
A obra foi custeada por mais de 130 entidades, empresas, sindicatos, instituições e pessoas físicas, e contou com apoio do poder público. Os representantes das entidades que participaram do lançamento puderam discursar no megafone e entregaram certificados aos jovens que integram o Projeto de Incentivo à Arte Urbana.
O coordenador estadual do Movimento Negro Unificado, Luiz Felipe Teixeira, destacou a importância da instalação de uma figura negra no centro da cidade.
— Talvez vocês não tenham noção da dimensão do que está acontecendo aqui. É um fato histórico. É uma questão de empoderamento. Vivemos em um dos Estados mais racistas do Brasil. Nós construímos essa cidade e esse Estado e temos o direito de estarmos estampados ali — salientou.
A atividade teve performances artísticas da Iniciativa Cultural Poetas Vivos. Ao fim do encontro, Mona e Mauro entregaram mudas de quebra-demanda para os participantes do evento.