O Centro Histórico recebe de volta 43 postes originais que, depois de 92 anos operando, foram restaurados e modernizados com tecnologia em LED na Rua dos Andradas, a Rua da Praia.
O trabalho de recuperação do mobiliário construído em ferro fundido nos Estados Unidos em 1929 foi feito pelo artista Ricardo Cardoso, contratado pela prefeitura de Porto Alegre, através da concessionária IpSul. O tempo instável tem atrasado os trabalhos de instalação, mas não no atelier, na Zona Sul, onde uma primeira leva com 27 unidades recebe os detalhes finais.
— Houve um empenho desde a contratação para que o restauro fosse feito da melhor maneira possível. Desde a coloração amarelada da iluminação, para manter o aspecto original do Centro, até o cuidado do material de cada componente, foi tudo muito inspecionado — detalha Cardoso.
— Com as melhorias que fizemos neles, tenho certeza que vão durar mais cem anos — complementa.
O primeiro poste começou a ser reinstalado na esquina da Rua dos Andradas com a Rua General Bento Martins, em frente ao número 662. Essa foi a primeira entrega do total de 43 postes originais daquela região recuperados. A corrosão dos metais e o desgaste eram as marcas deixadas pelos longos anos de funcionamento desses que foram alguns dos primeiros pontos de luz elétrica em via pública de Porto Alegre.
Cardoso já tinha sido responsável pela recuperação de outros iluminadores centenários: as lâmpadas que ficam em suportes em forma de globo na calçada em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz, são sustentadas por uma estrutura que passou pelas mãos e ferramentas dele.
— Não procurei este serviço por dinheiro, mas sim por gostar de trabalhar com o material e com os desenhos daquela época — explica o artista.
Cardoso é especializado em ferro, com direito a curso em Toledo, na Espanha, cidade que, segundo ele, é conhecida por ter sido o berço dos forjadores de armaduras e espadas do império romano na antiguidade. Ele pretende deixar uma etiqueta em inox dentro dos postes porto-alegrenses com a explicação do trabalho e assinatura do arquiteto Lucas Volpatto e do engenheiro Henrique Mateus, responsáveis pela pesquisa histórica e análise técnica, assim como a dos demais artesãos envolvidos na recuperação:
— Para que daqui 10 ou cem anos saibam o que foi feito e consigam realizar a manutenção adequada, isso é muito necessário.
Investimentos
A concessionária Iluminação Pública (IpSul), responsável pelas obras, e a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Smsurb), afirmam que haverá uma economia mensal de R$ 1,3 milhão no pagamento da conta de energia por parte da prefeitura depois que o plano de modernização das lâmpadas for concluído em toda a cidade.
— Por mais que esses postes não sejam tombados como patrimônio, eles são históricos. Alinhamos com a Secretaria de Planejamento e com a de Cultura para mantermos essa questão do design, pois tem todo um apelo histórico nessa característica do centro de Porto Alegre. Ao mesmo tempo, estamos modernizando com a troca dos pontos de iluminação na cidade. Teremos todos em LED até o final do ano que vem — comenta o secretário municipal de Serviços Urbanos, Marcos Felipi Garcia.
As equipes de trabalho da Smsurb aguardam dias com o tempo mais firme para ocuparem as calçadas da Rua da Praia e entregar a nova iluminação. Quem passar por ali antes disso, verá apenas tapumes em redor dos tocos de metal com a fiação elétrica saindo do chão, além da ponta superior dos andaimes que aguardam Cardoso e o velho mobiliário urbano reformado.
Legado histórico
Os postes foram construídos pela fábrica Union Metal, em Ohio, nos Estados Unidos, em 1929. A empresa foi criada em 1906 e segue ativa. Em seu site, afirma ter instalado os primeiros equipamentos de iluminação elétrica em mais de 4,4 mil cidades norte-americanas. A bagagem histórica segue presente no portfólio da fábrica, que mantém a linha Nostalgia, inspirada no design trazido por desenhistas europeus no começo do século 20, encontrado nos postes que iluminam o centro de Porto Alegre.