Olhando para a janela de sua casa, no bairro Restinga, em Porto Alegre, a estudante de Letras Luana Leites, 21 anos, sentiu-se inspirada para escrever poesias. Desde os 11 anos, colocar na folha em branco seus sentimentos e pensamentos sobre a vida foi a forma que ela encontrou para lidar com o preconceito. A jovem tem paralisia cerebral motora e está lançando o Diário Poético – livro em formatos digital e audiolivro – produzido durante a pandemia.
Para Luana, o livro é uma oportunidade de quebrar os padrões do capacitismo — achar que pessoas com deficiência são menos capazes do que as pessoas sem deficiência — que ainda está presente na sociedade.
– Muitas pessoas subestimam a capacidade de pessoas portadoras de necessidades especiais, por acreditarem que não podemos participar de forma ativa e, tampouco, estarmos inseridos na sociedade – afirma a jovem.
Luana recorda que a percepção sobre os pensamentos poéticos ocorreu durante as sessões de fisioterapia, quando ela recebeu a sugestão de escrever as frases aleatórias que vinham a sua cabeça. Além das circunstâncias vividas, Luana é inspirada por grandes nomes da música nacional, como Cazuza, Caetano Veloso e, principalmente, Renato Russo.
– Escrevo sobre várias coisas, mais sobre sentimentos e sobre a vida. Escrevo também como terapia, porque o preconceito era e é tão pesado. A literatura sempre me ajudou a enfrentar as dificuldades de aceitação, já que escrevendo eu me sentia e me sinto livre – conta.
Possibilidades
Luana teve o apoio do produtor Vinicius Mello, 34 anos, para a criação do Diário Poético. Segundo Vinicius, ela se destaca pela forma de lidar com o bullying e transformar essas vivências em poesias.
– É uma poesia tão delicada, que ajuda a fugir da realidade. Também é sobre ter condições e inúmeras possibilidades. Ela é uma pessoa com deficiência e escreveu um livro, não tem o porém nessa frase – explica.
Para a mãe de Luana, a dona de casa Iracilda Leites, 50 anos, o livro é resultado de esforço e de dedicação da filha em aprender.
– Ela é criativa até demais. Eu sempre disse que a Luana veio assim e não trouxe junto o manual. Aprendi a lutar com ela e por ela. Ela se esforça para os seus projetos. Aprendeu a mexer no computador sozinha e escreve tudo – relata.
Entre as mais de 35 poesias, Luana escreveu sobre a vida e até sobre a pandemia por metáforas. Conforme Vinicius, são um respiro em meio à realidade.
– Quando as pessoas leem as poesias da Lulu, percebem que arte cura, que ela salva – afirma.
Distribuição para escolas
O livro de poesias é um projeto executado por meio do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, e será distribuído gratuitamente para escolas da rede pública, municipal e estadual, e também para as privadas que tenham interesse no material.
– Este projeto mostrará a importância da poesia, para refletir sobre a vida, se sentir compreendido enquanto ser social e humano, incentivando as pessoas em toda sua diversidade a se expressarem, e não reprimir os seus sentimentos – destaca Luana.
Segundo Vinicius, assim que houver a possibilidade com segurança, Luana também poderá ir até as escolas para contar sobre a produção do material.
– Quero ser um exemplo, transmitir coragem para pessoas parecidas ou iguais a mim, para que realizem e nunca desistam de seus sonhos, por mais dificuldades que encontrem. Seja qual for o sonho, seja qual for a dificuldade, somos capazes – conclui a jovem.
Para obter o livro
- As escolas públicas e privadas, interessadas em adquirir o material de forma gratuita, podem entrar em contato pelo telefone (51) 99361-4865 ou pelo Instagram @diariopoeticodiario.