Acostumados a cozinhar debaixo de viadutos e até de chuva, os Cozinheiros do Bem terão um espaço mais moderno para preparar suas marmitas. A partir desta quarta-feira (18), o grupo ficará sediado no Centro Vida Humanístico, localizado na zona norte de Porto Alegre.
O espaço, cedido pelo governo do Estado, conta com refeitório, salas para reuniões e até cozinha - uma novidade para o coletivo independente, conhecido por garantir refeições a centenas de moradores de rua da Capital.
Na antiga sede, no Centro Histórico, os voluntários liderados pelo chef Julio Ritta só conseguiam armazenar os alimentos e guardar panelas, fogareiros e refrigeradores. Para cozinhar, precisavam levar todos os equipamentos para a rua, em locais como o Viaduto da Conceição, onde servem almoços aos sábados há pelo menos seis anos.
Já no salão aos fundos do Centro Vida Humanístico, onde recém se instalaram, eles poderão, além de cozinhar e servir comida no refeitório, oferecer oficinas para pessoas em situação de vulnerabilidade, uma troca firmada com o governo estadual. Também deixarão de pagar os R$ 2.800 de aluguel, sem falar nas contas de água e luz.
— A gente tem uma grande mudança. Antes, tínhamos que correr durante a semana para conseguir valores para pagar o aluguel. Agora, temos um espaço onde poderemos, além de cozinhar, capacitar pessoas em situação de vulnerabilidade. Não tem preço que pague. Aliás, a gente não precisa mais se preocupar com preço, porque temos uma sede gratuita — comemora Ritta, coordenador do coletivo.
Voluntário que maneja as panelas dos Cozinheiros do Bem, o arquiteto Gabriel Hoberrek, 46 anos, preparou, ao lado do também voluntário Marcelo Carbonell, 60, estrogonofe de carne de gado com batata palha para marcar a estreia da cozinha nesta quarta-feira, além do lançamento do projeto Vidas Importam, que marca a retomada das atividade do Centro Vida Humanístico, administrado pela Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS).
A dupla ficou admirada com o novo espaço.
— Agora, a gente cozinha com proteção. Não cozinha na chuva — observou Hoberrek.
— Excelente. É um pouco fora do Centro, mas pelo menos não pagamos mais aluguel — confirma Carbonell.
Foi durante o lançamento do projeto Vidas Importam que ocorreu a assinatura do termo de cooperação entre Executivo e Cozinheiros do Bem, que contou com a presença do governador Eduardo Leite. Em troca da sede, os voluntários se responsabilizaram em criar uma horta comunitária no local, onde dão orientações sobre plantio e cultivo a pessoas em situação de vulnerabilidade, além de ministrar oficinas sobre preparo de refeições saudáveis.
Parcialmente paralisado durante a pandemia, o Centro Vida Humanístico abriga um conjunto de ações voltadas a migrantes e moradores de rua, além de pessoas de baixa renda. Com a retomada, o local voltará a oferecer serviços de assistência social, assistência jurídica, cultural, esportiva, pedagógica, de qualificação profissional e de inserção no mundo do trabalho.