O Rio Grande do Sul registrou nesta segunda-feira (1) a semana com o maior número de mortes por coronavírus desde o início da pandemia. O agravamento fez com que o Governo do Estado publicasse decreto deixando todos os municípios em bandeira preta, o que provoca o fechamento do comércio de itens não essenciais. Porém, nem o aumento de mortes, a falta de leitos de UTI e as novas rígidas regras publicadas fizeram com que alguns estabelecimentos deixassem de funcionar.
A reportagem de GZH flagrou ao longo da tarde desta segunda-feira lojas que vendiam produtos não essenciais funcionando em Porto Alegre. Na Avenida Ipiranga, tradicional via que concentra comércio de móveis, pelo menos duas grandes lojas estavam abertas. Em uma delas, o argumento do responsável para manter as portas abertas era que tinha autorização para venda de alimentos. Logo na entrada, meia dúzia de produtos alimentícios dentro de sacolas estavam em cima de mesas, cadeiras e sofás.
Responsável pela loja: — Nós temos alvará.
Repórter: — Para funcionamento de loja de móveis?
Responsável pela loja: — Alimentos.
Repórter: — Que alimento?
Responsável pela loja: — Cestas básicas que a gente vende. Isso está no CNPJ.
Repórter: — Então o CNPJ hoje é só para venda de alimentos?
Responsável pela loja: — Alimentos e móveis.
Repórter: — Mas hoje, no caso, não pode vender móveis.
Responsável pela loja: — É, mas são alimentos.
Na mesma via, outra loja de móveis estava com as portas abertas. O argumento era que também vendia materiais de construção. Segundo o governo do Estado, lojas que vendem esse tipo de item, mas precisam estar classificadas neste ramo de atividade.
Na avenida Azenha, algumas lojas de roupas estavam abertas, com fitas zebradas na frente, com cartazes informando que estavam fechadas e vendendo por meio de um número de WhatsApp. Mas o vendedor estava na frente e atendia quem se interessava por alguma peça.
Na área central de Porto Alegre, várias lojas de roupas estavam abertas. Nessa região, os estabelecimentos baixavam as cortinas de ferro até a metade, e os vendedores continuavam em frente chamando clientes para dentro e oferecendo peças. Em uma delas, a reportagem se passou por cliente e chegou a ser convidada a entrar, mas não aceitou o convite, respeitando os protocolos sanitários.
Um pouco mais discretos, mas, mesmo assim, ativos, estavam os locutores que chamam o público para dentro das lojas. Sem equipamentos de som para não chamar a atenção, convidavam para compras quem passava em frente aos estabelecimentos.
Tanto na área central, quanto nas regiões das avenidas Azenha e Ipiranga, a maioria dos estabelecimentos não essenciais estava fechado. Mas havia quem insistisse em desrespeitar o decreto mais rígido publicado até então para tentar conter o avanço da pandemia.
O que diz a Prefeitura
Desde sábado (27), o Escritório de Fiscalização da Prefeitura, ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (SMDET), realizou a vistoria em 177 estabelecimentos comerciais de Porto Alegre, em cumprimento às regras de bandeira preta. Foram fiscalizadas lojas de rua e em shoppings em vários bairros da cidade. Desse total, 58 foram orientados a fechar por estarem infringindo o decreto estadual da pandemia que só permite o funcionamento do comércio ligado a atividades essenciais.
- Vamos realizar vistorias nesses locais (indicados pela reportagem). Quando a gente vai fiscalizar, a gente vê a atividade predominante. Se estiver irregular, providenciamos a lavratura de um auto de infração ou uma interdição cautelar. Mas também podemos determinar uma interdição parcial – explica Luciano Reche Dias, coordenadora da fiscalização da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
No caso da interdição parcial, a venda de produtos não essenciais, por exemplo, é suspensa, ficando o estabelecimento aberto somente para comercialização dos itens considerados essenciais.