No dia 23 de dezembro, depois de mais de 14 anos de obras, a duplicação da RS-118 foi finalmente entregue pelo governo do Estado. A obra, que deu à rodovia ares de freeway — como é conhecido o trecho da BR-290 entre Porto Alegre e Osório —, com pista duplicada e vias laterais para acesso local trouxe um novo clima para as cidades que o trecho cruza, Sapucaia do Sul e Gravataí.
Um mês após a inauguração, a rotina de quem vive ou trabalha às margens da rodovia já mudou. Os vizinhos do local já veem o movimento intenso mais de longe, já que as pistas de acesso local separam a comunidade da rodovia. Na semana passada, a reportagem rodou pelo trecho duplicado, que se estende da ligação da rodovia com a BR-116 até o trevo com a freeway. Apesar de concluídas as obras de duplicação, ainda é possível ver equipes trabalhando em vários pontos da pista, principalmente, na colocação de placas com sinalizações. Também há pequenos trechos onde ainda estão cones de sinalização para o tráfego.
Diante de tudo que moradores e comerciantes da região enfrentaram desde o começo das obras, a situação atual é confortável. GZH acompanhou em diversas ocasiões estes problemas. Na loja de materiais de construção de André Mattos de Souza, 31 anos, por exemplo, houve uma época em que o acesso estava totalmente obstruído, reduzindo de maneira abrupta o movimento. Uma cratera também chegou a ser aberta bem próximo da loja. Hoje, com a duplicação concluída, André pode reconstruir o estacionamento na frente da loja e também viu o trânsito carregado da rodovia sair da porta do comércio.
— Era tanto movimento que as pessoas tinham até medo de parar aqui. Para sair, depois, era difícil. Foi um período complicado, mas o resultado está sendo recompensador. A estrada ficou ótima — aponta André.
O mecânico Aldemar Marques Sarmento, 57 anos, que também trabalha no local, pontua a importância da duplicação, deixando uma via para os trajetos expressos e outra pista, separada, para o acesso local.
— Melhorou muito o fluxo aqui na região. Ajuda no movimento da loja, também — diz Aldemar.
Queda
Mesmo com as melhorias, para alguns, a duplicação trouxe queda no movimento do seu ganha pão. O comerciante Roberto John, 35 anos, é dono de uma bar nas margens da pista, na altura do bairro Capão da Cruz, em Sapucaia do Sul. Ele conta que, durante o período da obra, muitas casas próximas foram removidas para que a pista pudesse seguir. As áreas eram em terrenos ocupados, mas, ainda assim, fomentavam o movimento do comércio. Agora, com a duplicação, veículos em viagem também raramente acessam o local, já que precisam deixar o fluxo central para isso. Ainda assim, Roberto elogia a obra.
— Melhorou muito o tráfego na região, ficou uma obra muito boa. Seria melhor se tivessem mais retornos. Não fosse essa queda no movimento, eu teria só elogios — conta ele, que vive no mesmo terreno do bar, com a esposa e uma filha.
Comunidade ainda tem demandas
Quem vem pela RS-118 no sentido Gravataí/Sapucaia do Sul, não passa pelo floricultura de Cláudia Rodrigues dos Santos, 38 anos, sem perceber o local. Como aqueles tradicionais pontos de parada em viagem, a tenda expõe diversas esculturas e vasos em cerâmica, além de um sem número de plantas e outros elementos essenciais ao cultivo de flores e demais itens da terra.
Para a floriculturista, que está no local há quatro anos, as obras nunca foram um grande problema. O movimente foi pouco afetado durante os períodos que o canteiro passou por ali, aponta Cláudia. Hoje, ela diz que o resultado valeu a espera, mas pontua algumas demandas da comunidade. Além dos retornos, já citados por outros moradores, ela ressalta a necessidade de passarelas. Durante a visita, a reportagem presenciou diversos pedestres se arriscando ao atravessar a pista em locais inadequados.
O ponto levantado por Cláudia é para a instalação de uma passagem, principalmente, na região da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Guerreiro Lima, em Sapucaia do Sul. A instituição fica perto da via e muitas crianças precisam cruzar o local em períodos de aula presencial. O Diário Gaúcho chegou a mostrar o caso em maio de 2019.
— Essa passarela é essencial para a segurança das crianças naquele trecho — diz Cláudia.
Licitação de passarelas não vingou
O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer-RS) explicou que duas passarelas, na altura dos quilômetros 5,1 e 10,4 já tiveram licitações abertas em janeiro, mas acabaram não recebendo proponentes, restando desertas. Conforme o órgão, a falta de interessados pode estar ligada a "alta expressiva do preço do aço, que possui disponibilidade restrita no país, afastando os concorrentes". O Daer diz que será realizado um novo certame. Outras quatro passarelas estão "em fase final de projeto", segundo a nota enviada pela autarquia.
Os trabalhos que ainda ocorrem na pista são para atender às obras complementares de acesso aos municípios, onde a implementação da duplicação exigiu a conformação das ruas laterais, diz o Daer. A expectativa é de que essas atividades sejam concluídas ao longo deste ano, projeta o órgão, ressaltando, entretanto, que a duplicação está finalizada.
Retornos
O Daer afirma que "a duplicação da rodovia mudou as suas características, tornando as vias central em pontos de fluxo expresso". Assim, os retornos foram definidos em locais específicos. Para rodovias com a classe atual da RS-118, são recomendados retornos a cada 5 km. Porém, com o projeto executado há retornos a cada 3km, na média nos 22 km localizados entre a BR-116 até a BR-290".
Quanto aos projetos para aumentar o número de retornos, o Daer irá avaliar a necessidade deles conforme a conclusão das obras complementares.