A expectativa pelos clientes veio acompanhada de incertezas no primeiro dia de retomada dos shopping centers sob as novas regras para o comércio. Autorizados, agora, a abrir das 10h às 17h, de quarta a sexta-feira, alguns lojistas se questionavam sobre quanto tempo duraria a liberação.
— Está sendo confuso. No sábado (8), a gente abriu e mandaram fechar no meio do atendimento — conta Iago Rangel, gerente de uma loja de calçados no Shopping Iguatemi.
Segundo ele, o período de distanciamento social em que os shoppings estiveram fechados serviu para alavancar as vendas online da marca, que passou a levar produtos para os clientes experimentarem em casa. Acredita que, durante a pandemia, o quiosque no Iguatemi servirá mais como vitrine do que como carro-chefe de vendas.
Por volta das 11h, o movimento no local ainda era tímido, com várias lojas vazias e poucas pessoas circulando pelos corredores (quando a reportagem deixou o Iguatemi, perto do meio-dia, a movimentação já era intensa, com filas em alguns estabelecimentos). Na loja de roupas onde Rosângela Souza atua como consultora de vendas, na primeira hora da reabertura, somente um cliente havia feito compras.
O funcionamento intermitente incrementou o trabalho de Rosângela, que, após o período fechado, vestia as manequins com peças novas, voltadas para o verão.
— A gente recebeu a nova coleção sem nem ter saído a antiga. Espero que agora deixem os shoppings abertos, precisamos trabalhar — diz.
Para alguns dos clientes, a ida ao shopping foi a primeira desde o começo da pandemia. Wilmar Schaurich, que aguardava pela esposa sentado em um banco, conta que esse tipo de passeio era parte da rotina do casal até o começo do ano. A retomada foi a oportunidade para restabelecer o programa, ainda que com protocolos diferentes: além do uso de máscaras obrigatório, o estabelecimento passou a medir a temperatura de todos à entrada.
_ Vim para acompanhar minha mulher, que estava com saudade. Me senti seguro. Vamos ficar para almoçar _ contou.
Mas nem só dos saudosistas se fez o movimento no Iguatemi. A advogada Carla Henriques Fraga, 32 anos, foi ao local para uma consulta médica quando deparou com as lojas funcionando. Acabou parando para olhar as vitrines.
_ Nem sabia que estavam abertas. Me surpreendi. Não sei se vai continuar, mas acho que deveria. As coisas têm que funcionar _ disse.
No Shopping Praia de Belas, onde em uma das entradas foi instalado um sensor para medir a temperatura à distância, nem todos os comerciantes aderiram à retomada nesta quarta-feira. Na praça de alimentação, inclusive, os abertos eram minoria: apenas cinco estabelecimentos funcionavam, quase todos vendendo lanches ou sobremesas.
A circulação de pessoas também era mais tímida do que no sábado, quando o comércio teve de ser interrompido mais cedo do que o previsto em razão de uma decisão judicial.
_ Tinha lojas onde não dava para entrar. Estavam cheias, e tem gente que não é muito consciente, não respeita a distância _ recorda Patricia Albuquerque, que trabalha em uma loja de maquiagens.
A vendedora acredita que, caso os shoppings se mantenham abertos, a pandemia não deve intimidar a clientela. Já observa, no entanto, reflexos dos novos hábitos no consumo. Entre os produtos vendidos na loja, a procura por batons deu lugar a itens que destacam os olhos e cosméticos para melhorar a aparência da pele. Todos os provas são feitas com produtos descartáveis, entregues pelas vendedoras.
Nem todos os comerciários, porém, se mostravam animados com o futuro. Para Luiz Felipe Nascimento, vendedor em uma ótica, o movimento tem se mostrado aquém do esperado. Ele avalia que as restrições de horário prejudicam o comércio no shopping, uma vez que o funcionamento noturno é um diferencial que se perdeu com as novas regras _ que, na Capital, permitem a abertura até às 17h.
_ Antes, era forte depois das 18h. No fim de semana teve movimento, mas foi mais de passeio. Acho que enquanto não sair a vacina vai ser incerto, e não vai ser bom pros lojistas _diz.