Em um galpão de mil metros quadrados, no terreno do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), no bairro Partenon, toneladas de documentos são triturados em uma picotadeira e enfardados em grandes blocos antes de virarem folhas de papel novinhas. É ali que funciona a Associação dos Trabalhadores da Unidade de Triagem do Hospital São Pedro (Atut), onde, há 20 anos, mais de mil pessoas em situação de vulnerabilidade social e psicológica já tiveram oportunidade de reabilitação e fonte de renda.
Tudo começou no ano 2000, quando o psicólogo Alexandre Baptista e a terapeuta ocupacional Joana Helena Moreira, funcionários do hospital, perceberam a necessidade de os pacientes se ocuparem durante o tratamento. Viram na reciclagem uma alternativa viável, e motivaram o grupo a separar resíduos dento da instituição. Dois anos depois, a oficina terapêutica formalizou-se como associação e foi transformada em uma unidade de triagem do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
Hoje, os membros da Atut vêm, majoritariamente, de unidades de saúde pública como Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Boa parte do trabalho é feito com resíduos sigilosos de empresas e órgãos públicos, como Ministério Público, Defensoria Pública, Receita Federal e Correios. O serviço não tem custo para as instituições, e o lucro vem com a venda da matéria-prima para uma empresa de reciclagem.
— Achamos que ia dar certo, e deu. Nos tornamos referência para pacientes psiquiátricos, pois somos a única unidade de triagem que conta com uma equipe de saúde. Com esse trabalho, garantimos renda a um público que costuma sobreviver apenas de benefícios — explica Baptista.
Até o mês de março, 34 pessoas trabalhavam na associação. Com a pandemia, quem faz parte do grupo de risco foi temporariamente afastado, e o número despencou para três. Mesmo assim, o serviço não parou — são 15 toneladas de matéria-prima recicladas por mês, cujo lucro segue rateado entre todos os associados.
Além da baixa no pessoal, a associação precisa lidar com outras dificuldades, como a falta de um veículo adequado para o transporte de resíduos. A Kombi hoje usada apresenta desgastes em razão do tempo e da grande quantidade de peso carregada. O grupo até criou uma vaquinha para consertar o veículo (acesse aqui).
De acordo com Elaine Carvalho Strait, coordenadora da Atut e uma das associadas que segue em atividade, dificuldades existem. Mas a gratidão prevalece:
— Esse trabalho é uma benção. Me sinto feliz, fazendo o que eu gosto, e de quebra colaborando com o meio ambiente.