O resultado mais recente de um modelo matemático desenvolvido por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indica que Porto Alegre pode ter um pico de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) por coronavírus na última semana de agosto e uma rápida queda ao longo do mês seguinte.
Com base em dados atualizados até terça-feira (11), a ferramenta desenvolvida para auxiliar no monitoramento da pandemia estima que o ponto máximo de hospitalizações em UTI ocorreria por volta de 24 de agosto e, conforme a tendência atual, chegaria a 376 pessoas com covid-19 em estado grave — pouco abaixo do teto de 383 vagas estipulado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Os responsáveis pelo trabalho destacam que projeções podem ser alteradas e dependem de indicadores como o nível de distanciamento social entre a população. A recente flexibilização de regras de isolamento em Porto Alegre, que facilitou a retomada de atividades como o comércio por meio de um decreto publicado na terça, por exemplo, pode alterar as estimativas.
Se as mudanças resultarem em diminuição no distanciamento social e um consequente aumento de contágios, o período máximo de internações poderia ser antecipado e incluir um maior número de pacientes do que o calculado até agora.
— A diminuição do distanciamento social pode aumentar a velocidade de crescimento dos infectados. Nesse caso, pode aumentar e adiantar o pico, hoje esperado para a semana entre o dia 24 e o final do mês. Aí poderíamos ter mais do que as 376 internações projetadas — avalia o professor de Medicina da UFRGS e integrante do grupo que desenvolveu a ferramenta de análise Maurício Saueressig.
O epidemiologista Jair Ferreira, outro membro da equipe e consultor do Hospital de Clínicas, sustenta que a ferramenta tem apresentado resultados próximos ao que é verificado posteriormente.
— Por enquanto, o modelo segue dentro do esperado, com a curva (de internados) batendo mais ou menos com a evolução. Mas todo modelo matemático parte do pressuposto que as condições serão mantidas — explica Ferreira, que trabalhou ainda ao lado dos professores Cristiano Hackmann (matemática) e Carlos Schonerwald (economia).
Especialistas esperam queda no próximo mês
O médico Maurício Saueressig afirma que, pela tendência atual e feitas as devidas ressalvas de que projeções podem variar, é esperada uma queda significativa das hospitalizações a partir do próximo mês:
— As internações cresceram muito em julho e devem cair em setembro pela diminuição de pessoas suscetíveis ao vírus.
Jair Ferreira explica que o possível recuo na pressão sobre a rede hospitalar após a virada do mês ocorreria pelo aumento do número de pessoas que já teriam se contaminado, o que reduz o universo de suscetíveis e faz com que o vírus encontre mais dificuldade para se propagar.
Saueressig alerta que essas estimativas não devem ser vistas como motivo para as pessoas descuidarem das medidas de prevenção, mas justamente o contrário:
— Se estão sendo feitas algumas flexibilizações para reabrir a economia, é fundamental ampliar o distanciamento social, ficar a pelo menos dois metros de distância das outras pessoas, evitando aglomerações, lavar as mãos com frequência e usar máscara corretamente.
Uma volta à normalidade poderia multiplicar o número de pacientes graves projetado para o pico da pandemia na Capital e superar o teto de 383 leitos previstos para atender doentes com covid-19. Isso elevaria o risco de um colapso no sistema de saúde.