As sete famílias da comunidade guarani Tekoá pindó poty tiveram de se reunir em uma das poucas casas não alagadas pela chuva desta quarta-feira (8). O grupo de indígenas vive em um terreno às margens da Avenida Edgar Pires de Castro, no bairro Lami, extremo-sul de Porto Alegre. No pátio, um banheiro comunitário estava inacessível, próximo a um parque de recreação infantil também debaixo d’água.
Roberto Ramires, 52 anos, afirma que a água invadiu praticamente todas as casas. Móveis foram perdidos.
— A água subiu muito rápido. Contamos com ajuda agora — diz.
Os guaranis da comunidade vivem da venda de artesanato — atividade afetada pela pandemia de coronavírus. Enquanto a reportagem de GaúchaZH acompanhava os estragos causados aos moradores, a voluntária Ana Felicia, 57 anos, entregava um par de botas de borracha a Ramires. Ela faz parte do Madre Tierra, uma ONG que auxilia os artesãos.
— Eles precisam muito de nós, porque não têm para quem vender o artesanato. Nós, então, oferecemos a nossos amigos e conhecidos e repassamos — explica.
Na área urbana do Lami, o venezuelano Isaac Moi, 29 anos, não pôde sair da residência alugada há quatro meses. Com os quatro filhos, ele observava o terreno inundado.
— Estou de folga hoje, mas igual eu não teria como chegar ao trabalho — conta o auxiliar de supermercado.
Após a colisão de um Ford Ka e um Chevrolet Celta, dois postes foram atingidos na região — um deles, com um transformador, ficou inclinado sobre a Avenida Edgar Pires de Castro, entre os bairros Lageado e Lami. A EPTC precisou intercalar o fluxo do trânsito, com bloqueios alternados em ambos os sentidos. Pela manhã, havia congestionamento de pelo menos um quilômetro no sentido Centro-bairro.
Uma caminhonete da CEEE trabalhou no local e o poste foi desentortado no final da manhã. A região teve a energia elétrica desligada para o reparo.
Parte da areia da praia do Lami sumiu com a elevação do Rio Guaíba. Trabalhadores da cootravipa e do DMLU recolheram galhos do arroio que desemboca no lago utilizado para lazer nos dias de calor. A comerciante Nilza Nascimento, 65 anos, teme que comece a ventar, o que pode levar a correnteza para dentro do seu bar, onde ela também vive.
— Se tivesse vento sul, (a água) entraria. Já teve vários alagamentos aqui, moço — conta.
No bairro Ponta Grossa, Sônia Rejane Bertoni, 55 anos, tentava varrer para a calçada parte do que alagou sua residência. Em vão.
— Está tudo alagado na rua também, eu varro e a água volta — reclama.