A quarta-feira (8) começa com transtornos na zona sul de Porto Alegre, reflexo do temporal da madrugada. Pela primeira vez em anos em que vive no bairro Aberta dos Morros, o operador de máquinas pesadas aposentado Loreno Lopes, 67 anos, vai precisar de móveis novos. Com água cobrindo o pátio, ele varre o acumulado do piso da sala, onde o sofá foi colocado sobre a mesa.
— Perdi tudo. Preciso de alguma doação. Vivo com um salário desse tamanho — sinaliza com os dedos comprimidos, sobre a aposentadoria.
O cachorro vira-lata se abrigou em uma tábua no telhado do abrigo. No mesmo terreno, o neto também teve a casa atingida e os móveis terão de ser descartados.
Loreno vive na Rua Vale do Sol, em frente a uma área de muito lixo acumulado. A vizinha, Jessica da Cunha, 28 anos, reclama do descarte:
— O pessoal acaba jogando lixo na rua e, com a chuva, vem tudo.
Na casa da educadora, a chuva invadiu o galpão localizado nos fundos do terreno. Uma marca na parede aponta que o alagamento atingiu pelo menos meio metro dentro da construção.
Nas ruas Tim Lopes e Paulo Rubilar de Farias, também no Aberta dos Morros, uma série de ao menos 10 casas tiveram água nos pátios, com marcas altas de alagamento próximo as portas.
Carros estragados
Na Avenida Edgar Pires de Castro, entre os bairros Campo Novo e Restinga, um carro ficou preso em buraco aberto no asfalto, próximo à esquina com a Rua do Schneider, o que gerou muito congestionamento até as 8h30min. Dentro do veículo, três servidoras do Estado se deslocavam ao trabalho, no bairro Cristal.
— Tava tudo coberto pelo alagamento e, quando notei, o carro tombou para a direita — relembra a condutora Celia Caravaca, 49 anos.
Na carona, a colega Joseane Pache, 40 anos. O carro dela segue na oficina, estragado com a chuvarada da semana passada, quando um ciclone-bomba atingiu o RS. Após várias tentativas de retirar o automóvel, o trio deixou o carro e seguiu de carona para o trabalho.
Vias que conectam o extremo sul da Capital estão bloqueadas. No bairro Lageado, um automóvel Gol foi abandonado com água alcançando o porta-malas, na Estrada Francisca de Oliveira Vieira, próximo a Estrada Chapéu do Sol. Ônibus, caminhonetes e veículos pequenos manobraram ao chegar ao local. Casas ficaram inacessíveis na área de chão batido com áreas de zona rural.
Arroio Capivara transborda novamente
Na Avenida Tramandaí, o Arroio Capivara transbordou pela segunda vez, em uma semana. Nessa manhã, a água já havia baixado, porém a via seguia com muito barro. Um tronco de árvore foi arrastado pela força da água, e ficou sobre a calçada. O técnico em enfermagem Benhur Vais, 21 anos, ficou quase 12 horas aguardando o guincho.
— Eu saí do trabalho às 20h e fiquei preso aqui, porque o guincho não chegou no carro, de tanta água — contou, às 7h, enquanto ainda esperava o socorro.