A crise do transporte público em Porto Alegre começa a pesar ainda mais nos cofres públicos. A prefeitura anunciou nesta sexta (29) que irá aportar R$ 6 milhões na empresa pública Carris para evitar que o serviço seja suspenso a partir de junho. Segundo a prefeitura, a queda de receita é de 70% em relação ao período anterior à pandemia do coronavírus.
Por ser uma empresa de economia mista, a Carris não pode aderir à Medida Provisória 936, que permitiu reduções de jornada de trabalho, de salário e suspensão de contratos com pagamento de benefícios aos trabalhadores divididos com o governo federal.
A cifra de R$ 6 milhões, sozinha, já aumenta o déficit previsto para o ano antes da pandemia em quase 70%. A prefeitura pretendia fechar o ano, o último do mandato de Nelson Marchezan, com R$ 8,6 milhões negativos no caixa da Carris. Antes da pandemia, a gestão municipal vinha comemorando a redução do déficit na empresa, que era de R$ 74 milhões em 2016 e chegou a R$ 16,5 milhões em 2019. A meta para 2020 era diminuí-lo quase à metade. Devido à pandemia, a injeção de recursos dos cofres municipais na empresa deve ficar entre R$ 25 e R$ 30 milhões em 2020.
Paralelamente aos problemas com a Carris, a prefeitura negocia com as empresas concessionárias privadas compensações em razão da perda de passageiros. Na semana passada, a Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), que abrange as concessionárias, chegou a anunciar que suspenderia por dois meses a operação de 12 linhas de ônibus a fim de poupar R$ 2 milhões mensais. A sugestão das empresas era de que a Carris assumisse as linhas temporariamente, a prefeitura às considerasse imprescindíveis.
Alegando descumprimento de contrato, a prefeitura não aceitou a proposta - que afetaria cerca de 15 mil passageiros - e as empresas recuaram. O tema segue em negociação.
O transporte público da capital gaúcha já vinha em séria crise antes da pandemia. Entre 2016 e 2019, os ônibus porto-alegrenses perderam 5 milhões de passageiros em razão de fatores como a concorrência com os aplicativos de transporte e os sucessivos aumentos de tarifa. Um pacote de medidas foi apresentado à Câmara de Vereadores em janeiro, mas ainda não foi a votação.