Questionado sobre a proposta da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP) de suspender 12 linhas de ônibus operadas por empresas concessionárias pelos próximos dois meses, o prefeito Nelson Marchezan demonstrou preocupação sobre o futuro do transporte público na cidade, acentuada pela pandemia do coronavírus. A suspensão se tornou um impasse entre a ATP e a secretaria de Mobilidade Urbana.
— Nós já vínhamos alertando o governo federal sobre o colapso desse sistema. A covid acelerou o futuro do transporte público, que era a falência — opina o prefeito.
Após amargar perda de 31% dos passageiros em dez anos, o sistema de ônibus de passageiros viu o índice subir acima de 75% de ociosidade no início das medidas de isolamento social. Atualmente, opera com cerca de 35% da capacidade. Hoje sequer é possível retomar o uso total dos ônibus: conforme decreto, a lotação máxima durante a pandemia é o equivalente ao número de assentos dos coletivos.
Sobre o caso específico da suspensão temporária das 12 linhas, o Executivo a princípio recusou a proposta, embora Marchezan se diga "aberto a negociação". Entre as possibilidades ventiladas, está que a Carris assuma as linhas (hipótese sugerida pela ATP, admitida com ressalvas pela prefeitura) ou mesmo pedir auxílio ao Exército, que teria se mostrado disposto a auxiliar nesse tipo de parceria. Segundo Marchezan, isso foi discutido de forma hipotética no início da pandemia.
— Isso foi conversado porque o colapso do transporte era algo que sabíamos que poderia acontecer durante uma pandemia, mas não sabíamos em que velocidade. Agora, seja por meio do Exército, seja por meio da Carris, seja por outra solução, a prioridade será manter esse serviço público de forma emergencial. Mas sabemos que essas 12 linhas são a pontinha mínima do iceberg — avalia o prefeito.
De acordo com Marchezan, a pandemia tornou urgente a apreciação, na Câmara de Vereadores, do pacote de medidas do Executivo enviado no início do ano ao Legislativo para criar receitas extraordinárias para o transporte público a fim de baixar a tarifa.
— Não é uma questão para o ano, é para os próximos 30 dias. O transporte público não vai voltar ao patamar que era há 10 anos, antes dos aplicativos de transporte de passageiros. Agora não voltará tão cedo sequer ao patamar do ano passado. Se antes o pacote era algo mais resolutivo, agora ele é necessário — opina o prefeito.