A careta que fez engolindo olhos de cabra crus em um cenário desértico provavelmente está na imagem que você tem dela. A gaúcha Patrícia Diniz, a Pipa, esteve entre os 12 participantes do primeiro No Limite. Saiu como vice-campeã da edição, que completa 20 anos em julho.
Pipa ficou 23 dias gravando o programa em uma região com dunas de areia, falésias e mata no Ceará. Junto com os demais competidores, teve de improvisar um abrigo, arranjar comida e participar de provas boladas especialmente para testar seu limite — aí que entra a cena acima, sacrifício que rendeu como prêmio à equipe de Pipa um sabonete.
Na época garçonete do restaurante Sanduíche Voador, Pipa se candidatou para o primeiro reality show da Globo sem saber no que estava se metendo. Fez um teste para um "programa novo" da emissora entre centenas de competidores gaúchos no Hotel Everest e foi para o Rio de Janeiro algumas vezes, em um processo seletivo que durou dois meses.
— Já existia um comercial de televisão, em que aparecia leão, cobra, jacaré, umas aranhas de três metros de altura. Lembro que meu marido disse: é esse programa que tu vai fazer. E eu: "capaz, vou fazer novela da Globo, linda, maravilhosa" — ri ela.
Pipa nunca tinha vivido uma experiência de sobrevivência. Fácil não foi — passou fome, teve medo, se sentiu sozinha. Mas, no final das contas, adorou.
— Me sinto privilegiada de ter vivido uma experiência como essa, onde eu só aprendi — resume. — E passei a valorizar bem mais poder tomar banho, escovar os dentes.
Também foi motivo de orgulho fazer parte de um reality show dominado pelo sexo feminino. Enfrentou a semifinal com outras três mulheres — que cantaram Mulher (sexo frágil) do Erasmo Carlos após a eliminação do quinto e último candidato homem.
— É que não é força física, é psicológico. E acho que as mulheres brasileiras têm essa vitória, essa perseverança. Cada uma tinha seu objetivo, sabia o que estava fazendo ali.
Pipa perdeu a final para a paulistana Elaine Cosmo de Melo, de quem é amiga até hoje. Na verdade, não perdeu o contato com a maior parte dos participantes, que hoje mantêm até um grupo no WhatsApp.
De volta a Porto Alegre, Pipa teve uma uma creperia francesa por sete anos no Moinhos de Vento com o marido, Mauricio Zuccoloto Costa Leite, tornou-se mãe do Vicente e desenvolveu uma carreira como gestora de pessoas — trabalhou para marcas como Grupo Press e Vinhos do Mundo. No final do ano passado, voltou a empreender: sua família abriu, no bairro Auxiliadora, o Café Cactus, e ela mesmo faz todos os doces. Vez que outra algum cliente a reconhece como participante do No Limite — e custa acreditar que vai fazer 20 anos.
Pipa mesmo faz os doces e recomenda especialmente a cheescake de chocolate com frutas silvestres e o bolo de fubá com goiabada caseira. Mesmo com permissão de reabrir as portas, após novo decreto da prefeitura de Porto Alegre, Pipa decidiu seguir atendendo só entrega ou takeaway em tempos de pandemia do coronavírus. E garante que o cliente não vai encontrar nenhum olho de cabra no pedido.
— Não vai ter nenhuma experiência negativa — promete, rindo.