Na manhã desta quarta-feira (4), Porto Alegre deixou para trás um elefante branco estacionário na Zona Norte: a trincheira da Ceará. Em uma cerimônia tímida, o trânsito na área foi liberado, após sete anos de obras, com a presença do prefeito Nelson Marchezan e membros da gestão municipal.
Ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o prefeito comemorou a inauguração da trincheira, lamentou ter prometido o feito em 2017 e criticou o planejamento das obras na Capital.
— O grande desafio de todos os gestores é fazer projetos que sejam muito bem estruturados, dá menos margem para impugnações — analisou Marchezan.
Confira a entrevista completa
Quais medidas o senhor está tomando para que a demora que ocorreu na trincheira da Ceará não se repita (em outras obras)?
Acho que além de cobrar, é importante o esclarecimento para amadurecer o ouvinte a fazer a cobrança adequada dos gestores públicos. O equívoco aqui das obras da Copa foi a precipitação de querer fazer muito rápido. Muitas iniciaram sem licenciamento ambiental. Aqui nessa obra teve dois problemas gritantes. Um deles foi não precisar um lençol freático a 6 metros da trincheira. Então, quando a empresa foi iniciar as obras viu que o terreno era mais mole e a estrutura não era adequada. Teve que destruir e refazer os projetos. O segundo problema é uma casa de bombas não adequada para uma trincheira que tem 12 metros de profundidade. Os carros iam ficar boiando. Essas duas falhas e outras, como o não dimensionamento de materiais, geraram cinco aditivos de valor e seis aditivos de prazo (...).
Se não tem dinheiro, não anuncia.
Sim, esss são apontamentos sobre governos anteriores. Mas, e agora, que medidas o senhor está tomando?
O grande desafio de todos os gestores é fazer projetos que sejam muito bem estruturados, dá menos margem para impugnações, questionamentos e questionamentos internos da máquina pública.
São 5,7 mil municípios (no Brasil). Não temos capacidade técnica para isso. As empresas que fazem são terceirizadas, da iniciativa privada, que às vezes fazem projetos equivocados, e a máquina pública não tem competência técnica para fazer a análise do projeto.
As obras de ampliação da Avenida Severo Dullius (também da Copa de 2014) estão paradas, o que o senhor diz?
É uma das obras da Copa que começou sem licenciamento ambiental, esse é um dos motivos que geraram vários atrasos. A gente tem uma expectativa de terminar sim. Temos uma dificuldade junto ao governo federal que esperamos superar. Mas o que entendemos que não vamos conseguir terminar, não estamos iniciando, como é o caso da (avenida) Plínio (...).
Mas o que fazer quando é importante anunciar a obra, mas não tem dinheiro?
Se não tem dinheiro, não anuncia. Anunciar que está tentando uma obra não é problema (...).
Há uma discussão sobre o reajuste do salários dos rodoviários e reajuste da passagem. Como estão as coisas?
Nesses últimos meses, a gente esteve em Brasília, esperando que o governo federal tomasse uma iniciativa num conceito que é o mesmo do SUS. Ninguém pensa em cobrar de um usuário do SUS a consulta, ou se é retirado dos cofres públicos ou se busca subsídio cruzado (...).
O cálculo técnico aponta para quanto o valor passagem de ônibus?
O cálculo das empresas é R$ 5,20. No da EPTC, deve ficar abaixo disso. Se eu me adiantar vou gerar uma falsa expectativa.
Nossa grande frustração foi vir aqui, escutar empresa, escutar técnico e acreditar que seria inaugurada em 2017.
A prefeitura encaminhou série de sugestões de mudanças. Está na mão na Câmara de Vereadores?
A Câmara tem uma grande responsabilidade. A gente está aberto para debater. Quase tudo é uma questão política.
O senhor acha que em ano eleitoral as coisas vão ser diferentes?
Espero que a gente siga o que presidente (da Câmara) disse que pretende fazer. Ao invés de fazer um grande mutirão no final do ano, fazer um grande mutirão no início do ano.
Viemos aqui para marcar posição até que a trincheira não se repita.
Essa é a posição de todo o gestor. Todo gestor imagino que queira isso. Nossa grande frustração foi vir aqui, escutar empresa, escutar técnico e acreditar que seria inaugurada em 2017.
Essa é uma lição?
Essa é uma frustração. Assim como todos os porto alegrenses têm com a obra, essa é a minha, de ter prometido algo em cima de informações e não ter conseguido cumprir.
Quantas toneladas pesou o cone (que simbolicamente foi removido pelo prefeito para marcar a entrega da obra)?
É, um cone pesado. Mas é um momento de comemoração agora aqui.