A devoção à Nossa Senhora dos Navegantes levou milhares de fiéis a sair cedo de casa e participar da tradicional procissão na manhã deste domingo (2). A multidão deixou a Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Rua Vigário José Inácio, no Centro, por volta das 8h, e chegou à Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, na zona norte, cerca de duas horas depois.
Vestidos de branco, portando velas e flores, os devotos cantaram, rezaram em coro e bateram palmas para a santa.
Apesar de o termômetro marcar quase 30ºC e o sol bater forte no asfalto da Avenida Castelo Branco, muitos fiéis mantiveram a tradição de percorrer os cinco quilômetros do percurso sem sapatos.
— Calor no pé? Nem sinto! É muita fé. Venho desde pequena, é uma tradição de família — disse Jaqueline Faoro Martins, 37 anos, abrindo um sorriso ao lado do marido, Anderson, do filho e da filha.
Jaqueline agradecia à saúde e à família. Outros estavam ali pagando promessas relacionadas a problemas específicos de saúde. É o caso da dona de casa Maria Euniva Costa, 53 anos, que afirma ter sido curada pela santa.
— Fui diagnosticada com um tumor na perna cinco anos atrás. Fiz o pedido e ela resolveu. Depois não tinha mais nada — contou Maria, que caminhava agarrada na imagem da santa:
— Ela é pesada, mas todos os anos trago ela.
Joseberto Carvalho, 63 anos, também estava pagando uma promessa. Desde 2004, o aposentado sofreu quatro infartos. Com certa dificuldade, conseguiu completar o percurso usando muletas, um ritual que repete há 20 anos.
— Pareço saudável porque tenho sangue indígena, mas por dentro é uma máquina velha. Só estou vivendo por causa da graça da santa — afirmou Carvalho, que vestia uma camiseta estampada com a imagem da santa e levava uma toalha para benzer.
Já a vendedora Rosane Schuck, 59 anos, retornava à procissão para agradecer por um bem conquistado há três décadas. No meio da multidão, a devota chamava a atenção por carregar a imagem de Iemanjá (como a santa é chamada pelas religiões de matriz africana) e vestir-se como ela:
— Quando casei, morava de aluguel e era muito estressante. Ia todo o dia pedir que a santa me desse um canto para morar. Faz 30 anos que faço a procissão, mas não vou para praia, fico aqui. Faz três anos que enviuvei e ainda moro no mesmo lugar. Nunca vou vender — diz a vendedora Rosane Schuck, 59 anos, segurando firme a imagem da rainha do mar.
Um dos momentos mais emocionantes para os fiéis foi quando a santa passou debaixo do viaduto em frente à rodoviária. A imagem foi saudada por uma chuva de balões e papel prateado picado reluzindo sob o sol. O ápice da emoção, naturalmente, foi a chegada da procissão à Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro Navegantes, às 10h20min. O som triunfal da música Conquest of Paradise, de Vangelis, misturou-se a palmas, vivas.
Feliz com a quantidade de pessoas que compareceu neste ano, o provedor da irmandade, Gustavo Brum, declarou:
— Foi a maior procissão de todos os tempos. Significa a renovação espiritual do povo de Porto Alegre.
Nem Brigada Militar nem Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre (EPTC) divulgaram estimativas de público.