A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes exige não apenas fé, mas também trabalho incondicional. Para fazer o mais tradicional evento religioso de Porto Alegre, que espera mais de 100 mil pessoas apenas neste domingo (2), cerca de 200 voluntários doam seu tempo, paciência e talento. Eles não descansam até que a última bênção seja dada no santuário que homenageia a Santa, na zona norte da Capital.
Às vésperas da procissão (confira abaixo o serviço), GaúchaZH conta a história de quatro pessoas com trajetória de devoção e de serviço à mãe de Jesus:
Uma vida de devoção
Há três meses na cama, com dores horríveis na coluna, Elsa Anna Paz da Silva, 91 anos, teve uma conversa franca com Nossa Senhora dos Navegantes no ano passado:
— Pedi para ela que me desse saúde ou que me levasse.
Dona Elsa tem certeza de que foi ouvida. Fez uma cirurgia, tratamento de fisioterapia e entrou caminhando na missa que deu início à festa da mãe do céu no dia 19, na Avenida Sertório.
A costureira aposentada trabalha há décadas em prol do Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes. Nos galetos da igreja, era dela o molho servido sobre o macarrão — receita ensinada por uma italiana. Também já foi responsável pela venda de pastéis.
Em razão da idade, já não participa mais da organização da festa, nem acompanha a procissão. Mas não quer dizer que ficou de braços cruzados: bordou e fez crochês em panos de prato que serão vendidos em prol da igreja junto à banca de artesanatos no domingo.
— Tudo o que eu fiz foi com alegria, com amor — relata a senhora de voz calma e cabelos brancos.
Natural do interior de Taquara, no Vale do Paranhana, morando desde os 14 anos na Capital, Elsa passou a ser devota no seu casamento, realizado no santuário em um sábado de sol de 1948 — conheceu o marido, já falecido, em uma quermesse, quando tinha 18 anos. Fez bodas de prata e de ouro nessa mesma igreja. Foi convidada pelo padre a trabalhar pela paróquia quando a filha, que hoje tem 67 anos, nasceu.
Dona Elsa vai à missa toda semana e reza o terço todo dia — ela o leva na bolsa. É um objeto azul que, calcula, tem mais de 50 anos.
— Ela tem uma fé... que a tirou da cama. Tá aí, firme e forte — diz a filha Sonia Eliane Paz da Silva, 67 anos, ressaltando a lucidez da mãe na casa dos 90 anos.
O segredo de Elsa bem parece inspirado na santinha.
— Tem que querer bem as pessoas e rezar.
Serviço
A 145ª procissão de Nossa Senhora dos Navegantes ocorre neste domingo (2). Reconhecida como o mais tradicional evento religioso da Capital, é também uma das maiores procissões da América Latina. Milhares de pessoas são esperadas para acompanhar o traslado da imagem após a Missa de Despedida na Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Rua Vigário José Inácio, Centro Histórico, onde a Santa está desde o 19 de janeiro.
A celebração terá início às 7h e será presidida pelo pároco do Santuário do Rosário, padre Gelson Luiz Fraga Ferreira. Como em outras edições, a procissão deve partir às 8h em direção ao Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes, na Avenida Sertório, bairro Navegantes.
Dez bancas de alimentação estarão à disposição, assim como uma loja de artigos religiosos voltados à fé e oração, como terços, santinhos, imagens, escapulários, medalhas, velas, entre outros.
Às 20h, ocorre a entronização da Imagem para o Altar da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, onde ficará por mais um ano abençoando a comunidade da Capital.
Ajuda financeira
Sem recursos públicos ou patrocínio para a festa, a Irmandade de Navegantes criou um crowdfunding. Esse recurso também será reservado para o restauro do Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes, que precisa de reformas na estrutura de telhado, paredes e pisos. A obra orçada e licitada soma R$ 500 mil. As contribuições são feitas pelo site www.doa.la/navegantes2020.