A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes exige não apenas fé, mas também trabalho incondicional. Para fazer o mais tradicional evento religioso de Porto Alegre, que espera mais de 100 mil pessoas apenas neste domingo (2), cerca de 200 voluntários doam seu tempo, paciência e talento. Eles não descansam até que a última bênção seja dada no santuário que homenageia a Santa, na zona norte da Capital.
Às vésperas da procissão (confira abaixo o serviço), GaúchaZH conta a história de devoção de João Seberino.
O comandante da procissão
Com uma mão na proa do barco de Nossa Senhora, João Seberino, 59 anos, aponta com a outra a direção pela qual os remadores devem carregá-la. Durante as duas semanas do evento, é do padeiro a responsabilidade de coordenar o deslocamento da Santa — seja na procissão à Igreja do Rosário, no caminho inverso até a Zona Norte, ou, como naquela quarta-feira, na visita que a imagem fez ao Largo Glênio Peres para se aproximar dos fiéis.
Com regata azul, calça branca e, nas procissões oficiais, quepe de marinheiro na cabeça, ele é o comandante do andor há quatro anos. Mas já carrega a Santa há 40, por água ou, nos últimos anos, por terra.
— Eu vou dirigindo os remadores, revezando eles, e, quando precisa, carrego também. Não cansa não: a adrenalina fica alta, tu supera o peso. Não sente dor.
O semblante permanece sério, mas ele admite que, por dentro, é virado em emoção. É devoto dela ao longo dessas quatro décadas que participa da procissão.
— Só peço saúde e paz.
Na procissão de domingo, devem ser 120 pessoas carregando a Santa entra a Rua Vigário José Inácio e a Avenida Sertório. Cerca de 30 mulheres e 90 homens vão se revezando para levar o barco de madeira com a imagem vinda de Portugal. Como muitas pessoas deixam medalhas, orações, objetos pessoais, flores, velas, a estrutura pode pesar até 700 quilos.
No trajeto de cerca de cinco quilômetros, revezam-se pessoas de 20 e poucos anos e gente de 87 — hoje, a maioria já não é mais composta por praticantes do esporte, mas todos seguem sendo chamados de remadores.
Aos 30 anos, o sobrinho de João fez a estréia este ano. Já era uma reivindicação antiga do familiar, mas João queria que estivesse pronto. Acredita que se juntar a esse grupo deve representar um compromisso. É preciso carregá-la sob sol forte, chuva ou temporal, como ele já fez muitas vezes.
— Se a pessoa não tem fé, ela não fica. E isso, eu tenho demais.
Serviço
A 145ª procissão de Nossa Senhora dos Navegantes ocorre neste domingo (2). Reconhecida como o mais tradicional evento religioso da Capital, é também uma das maiores procissões da América Latina. Milhares de pessoas são esperadas para acompanhar o traslado da imagem após a Missa de Despedida na Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Rua Vigário José Inácio, Centro Histórico, onde a Santa está desde o 19 de janeiro.
A celebração terá início às 7h e será presidida pelo pároco do Santuário do Rosário, padre Gelson Luiz Fraga Ferreira. Como em outras edições, a procissão deve partir às 8h em direção ao Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes, na Avenida Sertório, bairro Navegantes.
Dez bancas de alimentação estarão à disposição, assim como uma loja de artigos religiosos voltados à fé e oração, como terços, santinhos, imagens, escapulários, medalhas, velas, entre outros.
Às 20h, ocorre a entronização da Imagem para o Altar da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, onde ficará por mais um ano abençoando a comunidade da Capital.
Ajuda financeira
Sem recursos públicos ou patrocínio para a festa, a Irmandade de Navegantes criou um crowdfunding. Esse recurso também será reservado para o restauro do Santuário de Nossa Senhora dos Navegantes, que precisa de reformas na estrutura de telhado, paredes e pisos. A obra orçada e licitada soma R$ 500 mil. As contribuições são feitas pelo site www.doa.la/navegantes2020.