Em 18 hectares de área arborizada na zona leste de Porto Alegre, quatro alunas do Colégio Tiradentes, da Brigada Militar, decidiram ir além das disciplinas curriculares. Preocupadas com o destino dos animais abandonados nas dependências da escola, as estudantes criaram um projeto para vacinar, castrar e oferecer o cuidado necessário a cada cão e gato encontrado, com o objetivo de encontrar uma nova família aos bichinhos.
Criado em abril de 2019, o "Tem um Doguinho no Pátio" já resgatou 24 cães e um gato. Vinte destes animais já foram levados a lares permanentes.
— A ideia inicial era cuidar dos bichinhos no pátio da escola mesmo, mas o número de animais abandonados cresceu. Hoje ficamos com eles até que se encontre alguém comprometido com uma adoção responsável — detalha Gabriela Ceresér Kassick, 17 anos, aluna do terceiro ano do Ensino Médio e uma das idealizadoras da ação.
Os cães encontrados no pátio da escola recebem um cartão de identificação, pendurado na coleira, com nome do animal e contatos para avisar os alunos caso sejam vistos perdidos pela cidade.
O sonho de Gabriela — e nem poderia ser outro — é cursar veterinária. Como está no último ano do colégio, a adolescente já busca substitutos para manter o cuidado com os bichinhos nos próximos anos. Reuniões com alunos mais novos foram chamadas, em uma espécie de seleção para a "troca da guarda".
— Muitos colegas acabaram levando os bichinhos para casa, para um cuidado temporário. Deram banho, tiraram carrapatos, tudo voluntário — relembra Júlia Tainá Silva de Miranda, 16 anos, que, ao lado de Gabriela, de Izadora Klaus, 18 anos, e de Mayara Webster, 16, formam o grupo à frente do projeto.
O vira-latas Mickey, de quatro meses de idade, é, atualmente, um dos animais mantidos pelas meninas. Tetraplégico, o filhote foi encontrado em uma caixa, ao lado de outra cachorrinha, batizada de Minnie.
Sem qualquer movimento nas patas traseiras, Mickey tem um olhar assustado, mas esfrega a cabeça nas mãos de quem oferece carinho. Como a doença que o aflige ainda não foi diagnosticada, o cão terá, nesta quinta-feira (20), uma consulta neurológica no Hospital Veterinário da UFRGS.
Os custos com alimentação e despesas médicas são bancados pelos próprios alunos, que vendem rifas e bottons com estampas do projeto. E uma vaquinha online foi criada para pagar a fisioterapia de Mickey — cada sessão custa R$ 85 e são necessárias duas por semana.
O link para ajudar o filhote pode ser acessado no perfil @temumdoguinhonopatio do Instagram. Ração para adultos e filhotes, tapetinhos higiênicos e fraldas P e M também estão entre os itens necessários para manter a ideia a pleno.
Veterinária voluntária na iniciativa, Luiza Peters de Souza, 28 anos, pondera que o aumento de animais em condições de abandono se dá por falta de cuidado dos antigos tutores:
— Esse projeto das gurias é lindo, tenho muito orgulho de participar. Me enche de esperança.
Para o diretor do Colégio Tiradentes, major Fabrício Jung Zaniratti, a atitude das meninas se tornou um exemplo de cidadania.
— Nós temos várias atividades sociais na escola, e essa, que partiu delas, demonstra ensinamentos de um bom cidadão, que buscar ajudar o próximo, seja ele humano ou animal — diz.
Também apoiadora da iniciativa — e motorista oficial nas idas e vindas dos bichinhos —, a mãe de Gabriela, Adriana Calleya Ceresér, 45 anos, vai além.
— Elas têm que lidar com todos os gastos. É também uma aula de administração.