Uma das plantas industriais apresentadas como referência para o polo carboquímico gaúcho em materiais de divulgação da Copelmi é uma unidade de gaseificação de carvão localizada no Estado de Dakota do Norte, nos Estados Unidos. Nas fotos aéreas, parece uma próspera empresa que transforma o mineral em gás natural sintético (GNS), fertilizantes como ureia e uma gama variada de outros produtos. Na letra miúda dos balanços financeiros, o cenário da primeira carboquímica do tipo construída em escala comercial – mas ainda a única nos EUA desde os anos 1980 – é menos favorável e ilustra as dificuldades de um mercado volátil e competitivo.
A mais recente prestação de contas revela prejuízo de US$ 397 milhões em 2018, que sucedeu outras perdas milionárias: os balanços fecharam com resultados negativos de US$ 87 milhões em 2017, US$ 94 milhões em 2016 e US$ 31 milhões em 2015. Uma razão para a penúria é a concorrência com outras fontes de gás mais baratas.
Experiência pioneira de gaseificação do carvão para produção comercial em larga escala de GNS, que hoje gera ainda ureia, amônia, nafta e outros químicos, a usina de Great Plains Synfuels, localizada na cidade de Beulah, ganhou impulso nos anos 1970. Naquela época, a crise mundial do petróleo forçou os EUA a buscarem alternativas de energia sob o temor de que o preço do gás natural aumentaria exponencialmente.
Logo que a planta foi inaugurada, em 1984, os preços estagnaram. Em agosto de 1985, a indústria pediu falência e precisou de socorro financeiro do governo para se reestruturar – o Departamento de Energia do país assumiu a companhia e arcou com US$ 1,6 bilhão em dívidas (valores da época) antes de repassar o complexo para a empresa Basin Electric Power Cooperative três anos mais tarde.
Após alternar bons e maus resultados, a empresa voltou a amargar prejuízos em série nos últimos balanços em razão de fatores como a exploração de shale gas (extraído do solo, também sob risco de poluição ambiental) – que ajudou os EUA a se tornarem um dos maiores produtores de gás natural do mundo e multiplicou a competitividade desse mercado.
Gerente de comunicação da Dakota Gasification Company (subsidiária da Basin Electric responsável pela carboquímica em Beulah), Joan Dietz informou a GaúchaZH por e-mail que todas as informações públicas disponíveis sobre a empresa estão contidas no mais recente relatório anual, publicado em 2018. O material informa que a controladora Basin Electric tomou "decisões difíceis" como o corte de 20% dos funcionários em busca de equilíbrio financeiro.