O transporte por ônibus em Porto Alegre diminuiu significativamente em 2019, com cerca de 571 mil passageiros a menos, segundo a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). Os dados correspondem ao período entre janeiro a novembro — as informações de dezembro só serão conhecidas no começo de 2020.
Segundo a associação, foram realizadas, em 2019, viagens com mais de 13,6 milhões de passageiros pagantes por mês. Em 2018, no mesmo período, o número foi de 14,2 milhões.
De acordo com o engenheiro de transportes da ATP, Antônio Augusto Lovato, o setor tem sido fortemente impactado pelo crescimento dos aplicativos de transportes de passageiros.
— A queda está relacionada diretamente com os aplicativos, e não com a recessão. A gente analisa que nas linhas curtas e médias a diminuição no número de passageiros é bastante considerável. Já nas linhas mais longas, houve pouca redução — argumentou.
Se levada em conta a previsão do edital do transporte público lançado em 2015 e que entrou em operação em 2016, a queda é ainda maior. O edital tinha uma estimativa de que as empresas de ônibus transportariam uma média mensal de 17 milhões de viagens pagas.
O valor do preço unitário da passagem de ônibus em Porto Alegre está em R$ 4,70, o que facilita a concorrência para os aplicativos: se quatro pessoas percorrerem um percurso entre o Aeroporto Salgado Filho e a Usina do Gasômetro, com tarifa normal, uma corrida por aplicativo dá cerca de R$ 20 - R$ 5 por pessoa.
O valor das tarifas ainda poderá aumentar. Preocupado com o provável reajuste da tarifa de ônibus, previsto para ocorrer entre janeiro e fevereiro, o prefeito Nelson Marchezan afirmou no dia 26 de dezembro que espera que o governo federal conceda algum tipo de subsídio para o transporte público. Para o prefeito, o aumento nas tarifas pode acarretar "baderna e bagunça" em ano eleitoral:
— Eu acredito que para aqueles que querem alguma bagunça no país, este momento adequado vai ser janeiro e fevereiro, e se eu fosse alguma autoridade e tivesse responsabilidade sobre o meu país, eu tomaria alguma iniciativa para que isso não acontecesse, que é tomar alguma medida para a passagem não subir — analisou o prefeito, em entrevista ao Gaúcha Atualidade. Ele também afirmou que chegou ao limite de tentativas para conter o aumento.
EPTC foca na diminuição do tempo de viagens
Para tentar trazer de volta ao ônibus os passageiros que optaram por outros meios de deslocamento, a Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) tem desenvolvido ações com o foco na diminuição do tempo das viagens. No começo de dezembro, a faixa exclusiva para ônibus e lotações da Avenida Goethe, em Porto Alegre, entrou em operação, com estimativa de redução de dois minutos e 50 segundos no tempo de viagem ao longo dos 400 metros do percurso.
No fim de outubro, a EPTC também implantou faixas exclusivas para ônibus na Avenida Independência e na Rua Mostardeiro. Segundo a empresa, até março de 2020, vão ser implantados 22 quilômetros de faixas exclusivas em 16 trechos. Isso representa um aumento de 130% em relação aos 17 quilômetros já existentes.
— Nenhuma cidade inteligente no mundo prioriza o transporte individual. Porto Alegre está na direção disso, de valorizar cada vez mais o transporte coletivo, com faixas exclusivas, GPS nos coletivos, entre várias outras ações — disse o diretor presidente da EPTC, Fábio Berwanger Juliano.
Outra medida foi lançar uma consulta pública para sobre as novas paradas de ônibus da cidade. A ideia é entregar a manutenção e conservação das estruturas para a iniciativa privada. O contrato, no valor de R$ 48,3 milhões, com a empresa que vencer a licitação será de 20 anos. As paradas terão telhado com proteção contra sol, chuva e radiação UV e material transparente atrás e nos lados. Além disso, contará com tomadas USB e câmeras de segurança.
Pela proposta, o investidor terá de instalar pelo menos 921 paradas de ônibus. Os locais desses pontos foram definidos pela Prefeitura e abrangem das regiões mais movimentadas e valorizadas até bairros mais afastados e humildes.