O Bloco da Laje juntou milhares de pessoas em Porto Alegre no domingo (26) e fez o viaduto sobre a Avenida Loureiro da Silva tremer — literalmente. Assim que deixou o largo junto à histórica Ponte de Pedras e acessou a Avenida Borges de Medeiros, os foliões sentiram o chamado Viaduto dos Açorianos oscilar. Muitos se assustaram.
— Uma menina passou correndo, chorando porque sentiu que estava balançando. Eu ainda não tinha percebido, mas daí senti. Fiquei meio apavorado — admite Kainan Porto Alegre Lopes, 22, professor de Literatura.
GaúchaZH ouviu especialistas para saber se reações desse tipo em estrutura viária são comuns e se havia algum risco à multidão. Bernardo Tutikian, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unisinos, ressalva que seria necessário ter acesso a uma série de informações técnicas do viaduto para dar um veredito, mas acredita que uma carga de pessoas em um bloco de Carnaval não teria capacidade para afetar a estrutura:
— Ele recebe cargas de carros, caminhões, ônibus e situações de frenagem. É muito mais do que uma carga de pessoas. Acho muito difícil que pessoas consigam colocar em risco uma estrutura desse porte. A não ser que seja antigo e esteja precisando de reforço, daí a passagem do bloco seria uma aviso.
Fernando Martins Pereira, engenheiro civil e diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul, explica que, se um grupo tão numeroso passa por um viaduto ou ponte com a mesma frequência de pisada ou pulo, pode criar um efeito de ressonância.
— Quanto mais esbelta for a estrutura, com menos massa de material, mais sensível será esse efeito. Ela é prevista para fazer isso, senão se rompe. Se fosse rígida, ia se romper. É como um amortecedor — explica.
Embora também creia ser muito difícil um grupo de foliões gerar um acidente, afirma que uma situação dessas não está livre de riscos, caso se aumente muito a capacidade de carga, aliada a essa frequência de vibração incomum. Até mesmo para evitar que os foliões se assustem, recomenda que os blocos evitem trajetos que incluem pontes ou viadutos.
Por meio de nota, a explicação da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim) confirma a opinião do especialista, "de que nas obras e estruturas de concreto e grandes vãos são previstas vibrações ocasionadas pela ação de cargas dinâmicas". A pasta informou ainda que a prefeitura monitora periodicamente os viadutos, pontes e passarelas da cidade por meio do Programa de Avaliação de Obras de Arte Especiais e que o Viaduto Açorianos, construído em 1973, foi vistoriado em agosto de 2019, "estando em condições estruturais normais de trafegabilidade". A Smim acrescenta que já encaminhou a contratação de projeto de manutenção estrutural para este viaduto, prevista para ocorrer por meio de licitação até o próximo ano.
GaúchaZH contatou a organização do Bloco da Laje, que não quis se manifestar.