Um bom termômetro do que se tornou o Bloco da Laje pôde ser visto na manhã do dia 19, no Parque da Redenção, quando foi realizado o último ensaio antes da saída oficial do bloco, que ocorre na manhã deste domingo (26). Por volta das 10h, horário em que estava marcado o evento, ainda havia pouca gente debaixo da sombra do Recanto Europeu. Mal se ouviam os primeiros sopros de trompete. No entanto, mais de cinquenta barracas de ávidos vendedores ambulantes cercavam o local, ansiosos pelo que viria.
Ao longo de nove anos, o Bloco da Laje aperfeiçoou de forma espontânea o seu funcionamento e o adaptou às particularidades do público boêmio de Porto Alegre. Por exemplo: se samba não é bem o forte da gurizada, ganhou força no bloco a mistura de ritmos como funk, soul, rock, maracatu e até umas brincadeiras com o tradicionalismo — os primeiros versos de Tertúlia são finalizados com uma sarrada no ar.
Outra característica de Porto Alegre é ser a cidade em que todos se conhecem, o que faz dos "esquentas" espontâneos pela cidade eventos tão interessantes quanto as próprias festas. Vem daí, provavelmente, a popularidade dos ensaios abertos na Redenção.
— Eu, particularmente, acho os ensaios mais legais do que o próprio bloco. No dia da saída oficial é muito cheio. Nos ensaios, a gente já conhece as pessoas e fica um clima mais tranquilo, mais alegre e legal pra curtir mesmo — opina Kaysa dos Santos, psicóloga de 26 anos, curtindo uma cerveja ao lado de Tiago Rosa, 25 anos.
Antes do meio-dia, o Recanto Europeu — rebatizado de Recanto Africano em uma das composições do grupo — já estava tomado por centenas de pessoas de azul, vermelho e amarelo tocando, dançando ou simplesmente bebendo e conversando em torno da folia. Boa parte dos foliões já exibem nas roupas os adereços que receberam como recompensa por terem participado do financiamento coletivo, forma com que o grupo custeia a saída do bloco. São emblemas, copos, pochetes e até mesmo participações em oficinas que servem para bancar a apoteose do Bloco da Laje.
— Claro que a grana é importante, mas o financiamento também é uma forma de as pessoas se sentirem parte da festa. O Bloco da Laje surgiu mesmo com esse objetivo, de fazer as pessoas curtirem um carnaval que foi feito por elas e para elas — conta Diego Machado, ator e um dos fundadores do bloco.
A saída oficial de 2020 — que será realizada na Ponte de Pedra, no Largo dos Açorianos, às 10h — consagra um ano de realizações. Neste período, consolidou o Laje in Conserto, projeto que excursiona pelo interior do Estado e deve atrair ainda mais público para a folia deste domingo. No ano passado, também foi lançado o álbum visual Bloco da Laje: 4 Estações, parte do projeto Natura Musical com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura do RS. A última das quatro músicas, que formam um belo curta-metragem musical, eternizou os versos que viraram hino da Laje:
— Domingo de manhã eu vou pra Redenção ensaiar pro meu bloco sair mais um ano.
É chegada a hora.