A luta de 25 anos de Losângela Ferreira Soares, a Tia Lolô, que acolhe mais de 150 crianças na associação comunitária que leva o seu nome, no bairro Orieta, em Viamão, enfrentou uma nova batalha na tarde de quarta-feira (4).
Uma pancada de chuva atingiu a cidade por volta das 17h, ultrapassando a capacidade da calha sob o telhado do prédio que abriga as salas de informática e de artesanato do projeto social. Parte do maquinário doado em julho pelo programa Caldeirão do Huck, da TV Globo, foi molhada.
— Foi desesperador. Perdi praticamente tudo que eu tenho aqui para o artesanato — afirmou Lolô, enquanto torcia retalhos de pano que seriam costurados nas peças de roupa.
Na manhã desta quinta-feira (5), os móveis continuavam afastados da parede, ainda úmida. As salas coloridas tinham todo o material amontoado, com carretéis de linha encharcados e panos de prato, fechos de zíper, camisetas e caixas de papelão visivelmente deteriorados pelo alagamento.
No próximo fim de semana, Tia Lolô participará de uma feira no município, realizada pelo clube Cantegril. Com o revés, a voluntária teme não ter estoque suficiente para expor os produtos, cujas vendas são indispensáveis para custear o projeto social.
— Não tenho como colocar os panos na máquina de lavar porque eles desfiam, se desmancham. Nem sei se os equipamentos ainda estão funcionando, porque tenho medo de ligar e tomar choque — complementa.
A história da associação — iniciada na carcaça de um ônibus inutilizado — foi contada no quadro “Um por todos, todos por um”, do Caldeirão do Huck. Após a visita do apresentador Luciano Huck, o espaço ganhou reforma e a construção do novo local, prédio que sofreu com o temporal.
A chuva durou menos de meia hora, segundo a educadora, que conta que, com a exposição em rede nacional, o número de crianças carentes que buscam atendimento de reforço escolar e complemento nutricional cresceu.
— Antes eu atendia pessoas de bairros próximos, agora vem gente até lá de Águas Claras — explica.
Tia Lolô vive em uma casa de alvenaria ao lado da escolinha. Segundo ela, a proximidade foi fundamental para o primeiro “combate” ao alagamento, possibilitando o desligamento do maquinário e a proteção da matéria-prima, retirada do chão e apoiada sobre as mesas.
— As vezes dá vontade de desistir, é cansativo. O pior é ouvir quem diz que eu ganhei dinheiro com o programa do Huck. Eu, uma senhora de 54 anos vendendo pano de prato no sol, tenho que ouvir isso.