No corredor do Hospital Fêmina, em Porto Alegre, o chileno Manuel Hernandez Carreno apresentou Trinidad, de 3,3 quilos e 48 centímetros, a um grupo de jornalistas.
— É gaúcha — disse ele, sorridente, segurando a filha recém-nascida nos braços.
Quinze horas antes, Trinidad estava dando um grande susto no pai, que trabalha no Banco do Chile, na mãe, Daniela Nicole Cornejo, 30 anos, e em todos os passageiros e tripulantes de um avião da Gol. Ela nasceu no voo direto em que o casal retornava de férias do Rio de Janeiro a Santiago, com os filhos de 11 e quatro anos. O episódio forçou um pouso não planejado no aeroporto Salgado Filho no começo da madrugada de segunda-feira (9).
— Foi a primeira vez que andamos de avião, a primeira vez que saímos do Chile. Tínhamos pensado que poderia nascer no Rio, mas não no avião — disse o pai, em espanhol.
O parto foi feito atrás da cabine do piloto por passageiros - dois paramédicos e uma enfermeira chilenos. Foi muito rápido, demorou cerca de dez minutos.
— Fiquei com medo. As contrações foram aumentando, a cada 20 minutos, depois a cada 15. Até que não aguentava mais. Felizmente, tudo saiu bem, estou muito bem — relata Daniela.
O avião pousou no Salgado Filho por ser o aeroporto mais próximo. Na chegada, uma equipe já aguardava a mãe e a menina para levar ao Hospital Fêmina, onde ocorreu a dequitação da placenta. Elas chegaram em ótimo estado de saúde, relatam os médicos.
Obstetra do Fêmina, Sandra Canali relata que, em partos como o de Daniela, normalmente se aguarda em torno de 48 horas antes de dar alta para mãe e bebê.
— Em 34 anos de hospital, eu já vi de tudo, mas parto em voo foi a primeira vez — completou Sandra.
Também foi necessário realizar uma série de exames - a equipe do hospital não teve acesso ao Pré-Natal da puérpera, nem ao encaminhamento do médico do Chile, atestando que ela teria condições de entrar em um avião.
A família alega que tinha o certificado do obstetra que acompanhou a gestação no Chile ao preencher um formulário para o check-in do voo, mas que não estava com os documentos ao dar entrada no hospital.
Enquanto Daniela acreditava estar na 37ª semana da gestação, a avaliação da equipe do Fêmina é de que já era a 40ª semana. Aos médicos, a mãe havia relatado que esperava o parto por volta do dia 20.
Por nota, a Gol limitou-se a informar que "a tripulação seguiu todos os procedimentos previstos para os primeiros socorros, e a aeronave alternou, pousando em Porto Alegre para que a cliente pudesse receber cuidados médicos em solo". Não informou se a passageira apresentou atestado médico ou assinou algum termo de responsabilidade.
A família tem intenção de registrar o bebê no Brasil e, na terra natal, encaminhar também a cidadania chilena.