Neste ano, a Feira do Livro de Porto Alegre resolveu concentrar esforços na fome de conhecimento do público. Na 65ª edição, foi a primeira vez em pelo menos 20 anos que o evento não contou com praça de alimentação. A dois dias do final da feira, neste domingo (17), o balanço da organização é mais positivo do que negativo.
Mais do que opções de alimentação, a percepção é de que o público sentiu falta de assentos e mesinhas, o que pode levar a ajustes na estrutura da edição de 2020. Segundo Eduardo Bergallo, engenheiro responsável pelo evento no Centro Histórico, a decisão de destinar a área do ano passado, entre o Memorial do Rio Grande do Sul e o Farol Santander, a um palco em vez da praça de alimentação se deu principalmente por dois fatores: a necessidade de abrir mais espaço para estandes nos 5,4 mil metros quadrados de Feira e a concorrência com os restaurantes do Caminho dos Jacarandás, em um dos limites da Praça da Alfândega.
— Nosso principal termômetro é o balcão de informações. Algumas pessoas se queixaram, mas não foram muitas que sentiram falta. O mais provável, na próxima edição, é que ampliemos os pontos com apenas algumas mesas, espalhados pela Feira — adianta Bergallo.
Há três anos atuando em barraquinhas no evento, Suelen Dutra comandou um food truck de cachorro-quente, o Snoopy Dog, em frente ao Monumento ao General Osório, rodeada pelos corredores de expositores. Passou trabalho.
— Mesmo com mais concorrência, acho que eu faturaria pelo menos o dobro em uma praça de alimentação. Se está chovendo, por exemplo, o pessoal não vem aqui comer um cachorro na rua. Se está muito quente, também não. Sem mesinhas, as crianças também se atrapalham com o lanche. Falta estrutura e dá mais trabalho para servir bem as pessoas — conta Suelen.
Se está chovendo, por exemplo, o pessoal não vem aqui comer um cachorro na rua. Se está muito quente, também não. Sem mesinhas, as crianças também se atrapalham com o lanche. Falta estrutura e dá mais trabalho para servir bem as pessoas.
SUELEN DUTRA
Dona do food truck de cachorro-quente Snoopy Dog,
De fato, os clientes do cachorro precisavam, no mínimo, de dois banquinhos de plástico: um para sentar com o cachorro em mãos e outro para apoiar as sacolas ou uma latinha de refrigerante. Exatamente o caso de Cristiano Costa, 43 anos, de Guaíba.
— Nem achava aquela praça de alimentação boa. Mas entre ter uma praça fraca e não ter nenhuma, tem diferença — opina, ao terminar o cachorro-quente.
O casal Juliana Paez, 38 anos, e Mauri Tonidandel, 41, foi surpreendido pelo fim do espaço.
— Somos de Dois Irmãos e viemos passar o dia aqui. Para o pessoal que vem do Interior, é ruim não ter um espaço de referência para fazer uma pausa e comer algo — avalia Mauri.
Espalhados pela Feira, além do Snoopy Dog, havia bancas de churros, paletas, pipocas e chopeiras. A ideia da organização é ter mais espaços como o do cruzamento entre a Rua Sepúlveda e a Avenida Siqueira Campos, em um dos limites da Feira. Ali, havia uma chopeira da Dado Bier e um food truck do Tchê Pancho. Com algumas mesas de plástico e cobertura de lona, o espaço agradou.
— É minha primeira vez na Feira, então, não sei se na praça de alimentação seria melhor. Mas o movimento foi bem legal, sem dúvida, voltaria no ano que vem — conta o proprietário do Tchê Pancho, Wagner Carvalho.
Os restaurantes do entorno da feira tiveram o maior impacto positivo. O Bistrô do Margs, por exemplo, ampliou o horário de fechamento das 19h para as 22h30min. Opera a todo vapor, com 32 funcionários.
Somos de Dois Irmãos e viemos passar o dia aqui. Para o pessoal que vem do Interior, é ruim não ter um espaço de referência para fazer uma pausa e comer algo.
MAURI TONIDANDEL
Visitante da Feira
— Tem quem veja o restaurante e faça uma pausa, mas tem também quem enxerga o Bistrô em um dia, acha bonito, e se programa para vir jantar aqui no outro — conta Margane Simonetti, gerente do espaço.
Os principais beneficiários, todavia, foram os cinco restaurantes do Caminho dos Jacarandás (Boteco do Porto, Tábua, Cenoura Pastéis, Oca de Savóia e Café da Praça), que ficam na Praça da Alfândega, quase ao lado da Caixa Federal e em frente ao Banco Safra. Com deques espaçosos e paisagem arborizada, se tornaram opção natural para comer, beber e folhear as novas aquisições para quem caminha alguns metros para fora dos estandes. Como o espaço é relativamente novo – funciona há pouco mais de um ano e meio –, há quem deduza ser uma estrutura temporária da própria Feira.
— Hoje mesmo uma moça disse: "Ai, que legal que vocês voltaram esse ano." E eu respondi: "Ué, mas nós ficamos o ano inteiro" — conta Elis Regina Godoi, do Tábua.