O granizo que atingiu o extremo sul de Porto Alegre danificou ao menos 80 residências no bairro Lami, de acordo com a Defesa Civil municipal. Os estragos foram contabilizados durante a madrugada, e ainda não estão incluídos no cálculo das famílias atendidas durante a manhã desta quinta-feira (31).
— Com certeza, o número de famílias atingidas vai aumentar, pois seguimos cadastrando e distribuindo lonas — afirma o coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira Junior. Ele estima que 4 mil metros quadrados de lona tenham sido entregues nesta quinta a moradores do Lami.
Na Rua Espigão, a frente de mais de uma dezena de casas estava tomada pela água. Na Rua Manoel Vieira da Rosa, mais de 200 metros eram percorridos apenas por veículos altos — quem estava a pé precisava calçar botas de borracha.
Com a trégua na chuva pela manhã — que caiu apenas em forma de chuvisqueiro entre as 7h e 11h —, os moradores começaram a limpeza das casas e a contabilidade dos prejuízos.
— Eu nem compro móveis mais. Dessa vez entrou água até no roupeiro. Minha pia é um monte de tijolo, o balcão já perdi — relata a auxiliar de serviços gerais Iara Azocar Guimaraes, 59 anos.
No imóvel, Iara vive com a filha e os dois netos. A água passou de meio metro, de acordo com as marcas na parede. Com ao menos 20 centímetros ainda retidos no piso, a moradora caminhava sobre tijolos, de um lado para o outro, apontando nervosa para a dezena de telhas furadas.
O casal de aposentados Luís Carlos e Maria Helena Sauzem varria de rodo a chuva empossada. Ex-moradores do extinto bairro Jardim Itú-Sabará, na zona norte, ambos buscaram a tranquilidade da zona rural nos anos 1990.
— Já desisti. Ano passado coloquei placa para vender. Eu gosto muito daqui, mas se somar o que já investi subindo o piso, dá pra comprar outra casa — conta Luís Carlos, sobre a casa que inicialmente foi construída para lazer, com uso exclusivo aos finais de semana.
Aos 83 anos, Vera Regina Pacheco Rodrigues se emociona ao relembrar que deixou o bairro Cristal após a morte do seu marido. No Lami, ela vive sozinha, contando com o apoio dos netos que ocupam um espaço do mesmo terreno.
— Começa a chover e eu já entro em pânico. Um gritando pro outro pra levantar os móveis, um horror. Se eu tivesse condições, fazia trouxinha e saia daqui — afirma a pensionista.
No quarto da idosa, apenas o roupeiro continua no mesmo lugar, "pois a vó não consegue mover", explica. E relembra a noite de transtornos:
— Dormi no sofá, sentada, cochilando só.
O aumento do nível do Guaíba cobriu as areias da praia do Lami, invisíveis para quem circulava pelo espaço próximo ao meio-dia.