Além da permissão para usar as faixas exclusivas para ônibus e lotações, um conjunto de medidas está ajudando a revigorar o serviço de táxi de Porto Alegre após o período mais crítico da concorrência com aplicativos de transporte.
Normas mais rígidas impostas pela lei de junho de 2018 fizeram o número de motoristas cadastrados despencar 37% na Capital, o que é visto como uma seleção positiva pela própria categoria, e levaram a melhorias como a aceitação de pagamento com cartões. Outras medidas vêm sendo adotadas de forma espontânea para aumentar a competitividade, como a adesão a um app específico para taxistas que oferece descontos de até 30% ao usuário. Como resultado, os condutores começam a sentir sinais de recuperação no movimento.
— Podemos dizer que a situação do táxi está "despiorando". Houve uma depuração da categoria, e estamos um pouco mais otimistas. Recuperamos cerca de 10% da demanda — analisa o presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari.
Outra razão para a reinvenção do táxi na Capital é a maior proporção de proprietários das licenças que passaram a dirigir o próprio carro ou permanecem mais tempo do que antes atrás do volante. Isso tem estimulado a preocupação com a boa conservação do veículo e o atendimento aos clientes.
— Eu dirigia apenas de vez em quando, já que contava com motorista auxiliar. Agora, trabalho pelo menos um turno inteiro todo dia — conta o proprietário de táxi Wanderlei Dutra, 55 anos de idade e 27 de profissão.
Dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que a média de reclamações contra taxistas caiu 23% nos primeiros oito meses deste ano, quando somaram 338 queixas, em comparação com o mesmo período de 2018. Os relatos de imprudência recuaram 18% e ficaram em 310, mas é possível que os números também sejam influenciados pela menor quantidade de profissionais cadastrados.
Entre os motivos para os donos dos prefixos dirigirem mais está a dificuldade para encontrar condutores auxiliares. Em vez de trabalhar para outra pessoa, eles preferem fazer as próprias corridas por meio de aplicativos como o Uber. A exigência de um exame toxicológico anual, imposta pela nova legislação, também estimulou a queda no número de profissionais registrados de 10 mil em novembro de 2017 para 6.305 agora — 37% a menos. Como o número de prefixos registrados variou bem menos (de 4 mil para 3,8 mil), isso significa que coube aos próprios donos dos veículos assumir a direção.
— Hoje, passamos por exame toxicológico, temos de apresentar certidões negativas (indicando bons antecedentes), entre outras exigências. O filtro pelo qual a categoria passou fez com que o atendimento melhorasse — acredita Dutra, que hoje atende principalmente por meio do aplicativo desenvolvido pelo Sintáxi.
Em razão dessas mudanças recentes, Dutra estima que o movimento aumentou entre 10% e 20% em comparação com o período de maior concorrência com os apps de transporte.
Outro taxista, Jorge Luiz Martins da Silva, 62 anos, também percebeu uma melhora na demanda nesse mesmo patamar. A retomada na confiança lhe permitiu até mesmo trocar de carro duas semanas atrás.
— A situação se inverteu um pouco. Antes, reclamavam muito da qualidade do táxi. Agora, acredito que quem está optando pelo táxi está buscando maior qualidade e segurança — diz Silva, que pretende se cadastrar no aplicativo do Sintáxi nos próximos dias.
Outras mudanças previstas pela nova lei dos táxis, além da mudança para a cor branca e da redução da vida útil máxima dos veículos de 10 para oito anos, envolvem avanços tecnológicos ainda em vias de serem implantados. Incluem o monitoramento via GPS e a identificação do motorista por biometria — o que impedirá que alguém não cadastrado assuma o volante. O Sindicato, porém, é contra essa medida por representar um custo de aproximadamente R$ 3 mil e se sobrepor a formas já existentes de identificação, como o chamado "carteirão" com foto.
Prefeitura pretende lançar aplicativo para táxis
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), em conjunto com outros órgãos da prefeitura como a Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa), pretende lançar nos próximos meses um aplicativo para conectar passageiros a taxistas da Capital a exemplo de como funcionam apps de transporte como Uber e Cabify.
A intenção é oferecer uma alternativa aos condutores, com a segurança de um serviço oficial do município, além do aplicativo já disponibilizado pelo Sindicato dos Taxistas (Sintáxi).
– A secretaria (de Mobilidade e Infraestrutura) está trabalhando nisso, e o aplicativo está em fase de elaboração. Estamos estudando outros municípios que já lançaram esse tipo de serviço, como o Rio de Janeiro, para criar a nossa versão. Ainda não há um prazo definido, mas deve ocorrer nos próximos meses – afirma o diretor-presidente da EPTC, Fábio Berwanger.
Berwanger acredita que a oferta de um app com aval da prefeitura pode facilitar a adesão de um maior número de condutores. Segundo o Sintáxi, atualmente pouco mais de 440 taxistas utilizam a ferramenta desenvolvida pelo sindicato, e mais de 37 mil passageiros se cadastraram para fazer as corridas com até 30% de desconto.
– Uma vantagem é que nós não temos tarifa dinâmica. Em períodos de chuva, por exemplo, nosso serviço fica até mais barato do que outras opções – afirma o presidente do Sintáxi, Luiz Nozari.