Enquanto o Brasil cobiçava os R$ 289 milhões da Mega Sena, dois motoristas que precisavam de muito menos devolveram pequenas boladas que haviam caído em suas mãos. Um taxista e um motorista de aplicativo, ambos de Porto Alegre, encontraram, respectivamente, uma carteira com R$ 1,2 mil e outra com R$ 975 esquecidas por dois passageiros em seus carros.
– Teve gente que falou para eu ficar com o dinheiro, acredita? Na hora, a gente até pensa: "Barbaridade, isso ia resolver o meu mês". Mas eu jamais faria isso: sou um homem de fé, sei que Deus vai me dar em dobro – afirma Luiz Conceição Pires, 72 anos, que trabalha 18 horas por dia dirigindo um táxi que não é dele.
É uma rotina semelhante à de Marcos André Durão, 42, marceneiro desempregado que, há oito meses, passou a alugar um carro para dirigir como Uber – ele sai de Canoas, onde mora, às 5h30min. Na segunda-feira, quando chegou do trabalho, perto das 22h, viu uma carteira perdida no banco de trás, abriu, surpreendeu-se com a dinheirama e, com a ajuda da esposa, a diarista Eliane, saiu a catar o dono no Facebook.
– Devolver é minha obrigação. E, sinceramente, acho que a maioria devolve – acredita Marcos.
O curioso é que, na semana anterior, ele havia batido o carro em uma caminhonete na Assis Brasil: reconheceu a culpa na hora e, para consertar os dois veículos, terá de desembolsar R$ 7 mil. Na manhã de ontem, quando foi entregar os R$ 975 na casa do empresário Rafael Sosa, recebeu R$ 100 de recompensa.
– Eu chamei vocês (de GaúchaZH) porque essa atitude do Marcos precisava aparecer. Isso tem que ser um exemplo – avalia Rafael.
Já o taxista Luiz, determinado a entregar os R$ 1,2 mil que ficaram no Corsa que dirige, pediu socorro à EPTC – o gerente de Fiscalização, Luciano Souto, passou horas pesquisando o telefone do homem que aparecia nos documentos. Era o aposentado José Roberto Alff, ex-funcionário da Receita Federal, que na segunda-feira recebeu sua carteira de volta:
– Fiquei preocupado, pensando no dinheiro e na maratona para fazer a documentação de novo. Agradeço demais ao Luiz, demais mesmo – diz José Roberto, que deixou para o taxista uma gorjeta de R$ 200.